“Descoloniza”, grafitaram no pedestal da estátua do padre António Vieira, no Largo da Trindade Coelho, em Lisboa, que foi vandalizada com tinta vermelha, tendo sido pintados corações no peito das crianças indígenas anónimas, representadas aos pés do padre português. A estátua, instalada em 2017, foi desde o início alvo de uma acesa polémica, acusada de representar de forma paternalista o período colonial. Os seus defensores salientavam a oposição do padre António Vieira à escravatura de indígenas no Brasil – os detratores retorquiam que em vez disso sugeria o uso de negros. Tudo indica que o ato de vandalismo vá na linha dos que se multiplicam por todo o mundo, dos EUA, ao Reino Unido e Bélgica, no rescaldo de protestos contra o racismo sistémico e a brutalidade policial (ver página 14).
Praticamente de imediato reagiu o deputado do do Chega, André Ventura, no Twitter “Isto está a passar todos os limites. A estátua do Pe. António Vieira!!!”, escreveu o deputado, frequentemente acusado de posições racistas. “O Chega vai questionar o Governo se pensa tomar medidas de proteção aos símbolos da história e da cultura nacional ou se vai ficar quieto e dar via verde aos vândalos inconscientes”.
A estátua, da autoria do escultor Marco Telmo Areias Fidalgo, fora instalada num protocolo conjunto entre a Câmara Municipal de Lisboa e a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, que tratou da sua instalação, estando planeada desde 2009. À época da sua inauguração, numa cerimónia presidida pelo próprio presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina, não era a única polémica sobre quanto ao racismo na cidade: era projetado um “Museu das Descobertas” que dividiu a sociedade portuguesa.