Itália. O vício de Mussolini

Nunca em qualquer lugar do mundo o futebol foi uma arma de propaganda e de fanatização como na Itália dos anos 30.

Mussolini tinha um prazer especial em soltar uma frase sinistra: «Sei exatamente o que todas as crianças de Itália estão neste momento a ler». Com ela sentia-se dono do futuro de toda uma geração. Também devia saber no que todos os italianos estavam a pensar, pelo menos se obedecessem cegamente à sua vontade: futebol. Num dos livros mais fascinantes escritos sobre a matéria, Sport e Fascismo – La Politica Sportiva del Regime 1924-36, Felice Fabrizio considera que a Itália foi o primeiro Estado a impor uma política desportiva que viesse a fazer do país uma nação desportiva. E no topo da hierarquia de todos os desportos, estava o Calcio.

Não foi, no entanto, a política de Benito Mussolini a escolher o futebol como desporto nacional, foi a nação que escolheu o futebol. Tentativas de implantar as corridas de automóveis, o râguebi ou o tiro ao alvo, considerados desportos nobres, deram pura e simplesmente com os burros na água. Sim, o povo queria era futebol. E o regime fascista tratou de lho fornecer em quantidades industriais.

Depois da súbita interrupção do campeonato italiano durante a I_Grande Guerra, nasce um periódico com o título Calcio, o primeiro jornal dedicado totalmente ao futebol depois da experiência do Hurrá, que foi uma publicação destinada a fornecer informação aos adeptos da Juventus. Ricamente ilustrado, o Calcio foi adotado rapidamente pelos devoradores de textos relacionados com o jogo dos ingleses. Mussolini também sabia o que os homens de Itália andavam a ler. Foi através do Calcio que os adeptos tomaram conhecimento da revolução desportiva que tomou conta do campeonato de Itália. Deixava, definitivamente, de haver a subdivisão da prova em Norte e Sul, com o campeão a encontrar-se no fim das eliminatórias que conduziam até lá, e procedeu-se à unificação. Além disso, de um momento para o outro, surgiram uma série de novos clubes, geralmente representativos de cidades, ou de fusões que passem a unir os adeptos de cada cidade. Era necessário criar uma paixão concentrada para que as rivalidades rebentassem com mais força. E, em consequência, os jogos atrairiam mais gente.

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