O Infarmed acolhe esta quarta-feira uma nova reunião de peritos, que antecede o Conselho de Ministros em que o Executivo tinha apontado levantar o estado de calamidade a partir de 1 de julho. Duas semanas depois da última reunião, a 8 de junho, Lisboa continua a ser o principal foco de novos casos – em particular, a Área Metropolitana de Lisboa, agora com novas regras para limitar ajuntamentos e dissuadir os convívios noturnos e com álcool na via pública –, mas verificaram-se surtos de grande dimensão noutras regiões do país, desde logo no Algarve e no Alentejo, com uma dimensão que até aqui não tinha existido.
O surto detetado na semana passada no IPO de Lisboa foi o maior registado nos hospitais desde o início da epidemia. E ontem soube-se que uma das doentes infetadas no instituto deu origem a uma cadeia de contágio em Monchique, ligada a cinco casos. Também no Norte houve dois surtos de maior dimensão, num lar de Cinfães e em Espinho. O índice de contágio é sempre um dos indicadores analisados e permitirá perceber a influência dos surtos nas restantes regiões do país, onde os surtos dos últimos dias terão aumentado o RT.
Jovens na mira, mas também há mais casos entre idosos
O Governo e a Direção-Geral da Saúde reforçaram os apelos aos jovens, que têm representado a maioria dos novos casos na AML. O discurso das autoridades endureceu depois dos vários ajuntamentos à margem das regras. E o Governo já fez saber que aprovará um novo quadro sancionatório no Conselho de Ministros desta quinta-feira. O Público avançou que as coimas vão variar entre 120 e 350 euros para quem violar regras e organizar festas e ajuntamentos, limitados a dez pessoas na Área Metropolitana de Lisboa e a 20 pessoas no resto do país. Para já, quem infringir as regras pode incorrer em crime de desobediência, determinou o Conselho de Ministros eletrónico de segunda-feira, que fez a primeira marcha-atrás no plano de desconfinamento.
Apesar de os jovens – na mira da sensibilização e das autoridades – representarem a maioria dos casos e terem registado um aumento de casos, nas duas últimas semanas, o aumento mais expressivo verificou-se nos contágios em idosos com mais de 80 anos, em que o risco da covid-19 é maior. A partir dos boletins da DGS é possível perceber a evolução dos novos casos por idade e, analisando os novos diagnósticos desde a reunião técnica de 8 de junho – portanto, um período de 16 dias –, verifica-se que os jovens na casa dos 20 e 30 anos se mantêm os grupos etários com mais novos casos (934 e 899, respetivamente, neste período de duas semanas). Entre os jovens, o aumento mais expressivo aconteceu na faixa etária dos 10 aos 19 anos, que registou 325 novos casos neste período de duas semanas (mais 40% do que no período de 16 dias anterior). Mas acima dos 80 anos registaram-se 376 novos casos, tendo sido este o grupo etário em que se registou uma maior subida face aos 16 dias anteriores a 8 de junho (53%).
Na faixa etária dos 70 anos houve uma redução de novos casos, mas aumentaram também 25% entre sexagenários. Não foram anunciadas novas medidas de sensibilização ou proteção para estes grupos.
Sintra mantém-se o concelho com mais novos casos
A reunião técnica deverá informar a decisão do Governo sobre o prolongamento do estado de calamidade. O Executivo já anunciou que irá manter-se nas freguesias mais afetadas da AML, 19 ao todo, o que inclui todos os concelhos de Amadora e Odivelas, seis freguesias urbanas do concelho de Sintra (de Queluz a Rio de Mouro) e ainda as freguesias de Sacavém e Camarate (Loures) e, em Lisboa, apenas a freguesia de Santa Clara, que resultou da fusão entre Ameixoeira e Charneca. O apertar de regras foi contestado ontem pela Associação Portuguesa de Centros Comerciais. “Investiram milhões de euros para adaptar os seus espaços e formar as suas equipas”, diz a associação. “Estes espaços minimizam o risco de contágio, não o agravam”.
Com o número de novos casos em Lisboa a manter-se dentro do mesmo patamar em que se encontrava há duas semanas, embora com um ligeiro abrandamento na última semana, Sintra continua a ser o concelho com mais novos casos e não se verifica ainda uma quebra nessa tendência, com 53 novos positivos reportados ontem. O internamento hospitalar por covid-19 tornou a aumentar, mas mantém-se dentro da capacidade na região. Por coincidência, a 8 de junho, quando os peritos se reuniram pela última vez, foi quando os internamentos por covid-19 atingiram o valor mais baixo depois do pico, em abril.
Desde então aumentaram ligeiramente, mantendo-se no patamar das 400 hospitalizações. Se, no início do desconfinamento, a região Norte tinha registado 59% dos casos de covid-19 diagnosticados desde março no país, o aumento progressivo de casos detetados na região de Lisboa foi diluindo a diferença – embora o Norte, onde houve mais idosos infetados, continue a registar mais vítimas mortais. Desde 4 de maio foram detetados 11 086 novos casos na região de Lisboa e 2188 no Norte. Mantendo-se a tendência das últimas semanas, a região de Lisboa deverá passar hoje o Norte no total de casos detetados desde o início da epidemia.