Os últimos dias não têm sido fáceis para a direção do PAN. A vida interna do partido que realiza os congressos à porta fechada passou a ser discutida na praça pública com a saída de, pelo menos, sete elementos descontentes com a direção de André Silva. A crise interna chegou ao Parlamento e depois de ter perdido o único eurodeputado, o primeiro a anunciar a saída, o PAN passa a ter apenas três deputados.
Cristina Rodrigues, eleita por Setúbal nas últimas eleições legislativas, há menos de um ano, também bateu com a porta com críticas à “forma como o PAN tem sido orientado” pela atual direção. “Fui sentindo cada vez mais a minha voz silenciada e a minha capacidade de trabalho condicionada”, afirmou à agência Lusa.
Os dissidentes estão alinhados nas críticas à direção. Afastamento de alguns princípios fundadores do partido, centralização do poder e autoritarismo são algumas das acusações feitas à estrutura liderada por André Silva. Deixou de haver “tolerância para com a diferença” e “qualquer opinião divergente é rotulada de desleal”, diz Cristina Rodrigues, que vai continuar na Assembleia da República como deputada não inscrita.
A direção do PAN não deixou nenhuma das demissões sem reposta. Ontem, André Silva decidiu convocar uma conferência de imprensa para responder aos “sete elementos que saíram em conflito”. O porta voz do partido acusou os dissidentes de estarem “mais preocupados consigo e com os seus interesses pessoais” e de “usarem o PAN como trampolim para chegar” aos lugares que ocupam na Assembleia da República e no Parlamento Europeu. “Não deixa de ser curioso que Cristina Rodrigues e o eurodeputado que recentemente saíram do partido não abandonaram os seus cargos políticos remunerados, nenhum abdicou, continuando a prosseguir deste modo os seus interesses próprios e a sua agenda pessoal”, acrescentou.
“Falta de empenho” André Silva fez duas críticas a Cristina Rodrigues com a acusação de que não estava a cumprir com “empenho” as funções para que foi eleita. “Foram várias as vezes em que não participou em reuniões ou que se ausentou das mesmas, mostrando uma total falta de envolvimento no debate político interno. Por estas razões, o processo de tomada de decisões decorria, muitas vezes, sem a presença da deputada, que sempre demonstrou falta de empenho e de interesse (…). Falta de interesse e de empenho que foi por demais evidente ao nível do trabalho político que não desenvolveu nas comissões que acompanhava”.
Cristina Rodrigues foi eleita nas últimas eleições legislativas há menos de um ano, mas antes já tinha trabalhado com André Silva como chefe de gabinete. O seu nome apareceu associado ao grupo IRA (Intervenção e Resgate Animal), em 2018, numa reportagem da TVI sobre a atividade desta organização.
André Silva desvaloriza O primeiro sinal de que algo estava a correr mal na vida interna do PAN foi dado há cerca de uma semana, com a saída do único eurodeputado do partido. Francisco Guerreiro foi o primeiro eurodeputado eleito pelo PAN, mas bateu com a porta pouco mais de um ano depois de ter assumido o cargo.
O mesmo caminho seguiram Sandra Marques, deputada municipal em Cascais, João Freitas, Ana Mendonça e Isabel Braz, que compunha a direção do partido na região da Madeira, e Cristina Rodrigues, deputada na Assembleia da República. “Não estamos a falar da saída de 500 pessoas, estamos a falar de sete pessoas. Todos os meses há filiações e desfiliações do partido”, disse André Silva. O porta-voz do partido admitiu a necessidade “fazer uma reflexão interna sobre as desvinculações recentes”, mas afastou a hipótese de convocar um congresso extraordinário.