Era um fulano baixinho (1,67), mas tinha um daqueles nomes infinitos, de provocarem cãibras na língua: António de Deus da Costa Matos Bentes de Oliveira. Ficou só o Bentes. Anos mais tarde, dr. Bentes, e com distinção. No futebol e na vida.
Há 75 anos chegava a Coimbra. Vinha de Portalegre, onde o seu avô paterno se tinha fixado, família de Braga que rumara ao sul e às planícies do Alentejo que parecem concentrar todos os amarelos possíveis da imaginação de um Van Gogh. António, o Totó, como a garotada lhe chamava, nascera também em Braga, na freguesia de São João do Souto, no dia 29 de agosto de 1927. Queria estudar, foi durante anos um estimadíssimo professor do ensino primário, como se lhes chamavam na altura, mas também jogar futebol.
Tratava a bola com o desvelo de um cachorrinho abandonado e ela obedecia-lhe, lambendo-lhe os pés, obedecendo à sua vontade. Coimbra nunca vira um cometa tão fulgurante cruzar os céus que se espelham no Mondego. Na primeira época de camisola preta e emblema de losango ao peito, marcou 20 golos no Distrital de Coimbra, 14 no campeonato nacional da I Divisão e dois na Taça de Portugal. Cáspite! O miúdo tinha acabado de chegar e, com um daqueles descaramentos divinos que o imarcescível Eça atribuía ao Alencar, ganhava estatuto de fundamental. Estreou-se na equipa principal dos estudantes no dia 23 de setembro num jogo frente à Naval 1.º de Maio, na Figueira da Foz. A malta comentava: «Olha o Bentes! Como corre o Bentes!». E o Bentes corria como um garoto feliz num campo de gipsofila.
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