por Cristina Rita e Marta F. Reis
Lisboa continua a concentrar o maior número de casos, mas parece haver alguma tendência de estabilização e maior identificação de cadeias de transmissão. Na reunião técnica no Infarmed, foi apresentada a distribuição dos surtos ativos no país, indicando neste momento o número provisório de 102 surtos na grande Lisboa, 21 na área da Administração Regional de Saúde do Norte, 19 na ARS Centro, cinco na ARS Alentejo e três na ARS Algarve. Além dos surtos identificados na área da grande Lisboa – e ontem foi confirmado um novo foco no Hospital de S. José, onde estão confirmados três casos positivos entre doentes – um dos alertas dos especialistas, apurou o i, prendeu-se com o aumento das infeções em idosos.
Se a maioria dos casos na grande Lisboa têm sido detetados em jovens, a maioria na faixa etária dos 20 aos 39 anos, uma das especialistas assinalou o aumento da incidência nos últimos 14 dias na faixa etária dos 80 anos, aquela em que a infeção acerra maiores riscos. O SOL já tinha noticiado o aumento de contágios nesta faixa etária nas últimas semanas, de cerca de 100 casos semanais no início de junho para mais de 200 nas duas últimas semanas. Os boletins da DGS deixaram nos últimos dias de indicar a idade dos novos infetados, devido a um erro informático. Ainda assim, na reunião de peritos foi apresentada essa análise para os últimos 14 dias. A caracterização dos novos casos na grande Lisboa mantém-se, no entanto, com alguma estabilidade: metade dos infetados têm entre 20 e 49 anos, um terço dos casos são pessoas assintomáticas e 92% estão a ser seguidas em ambulatório. Os peritos concluíram que a situação epidemiológica nacional mostra um tendência de estabilização desde o final de junho, indicando ainda que a transmissão entre coabitantes se mantém a principal fonte de contágio, mas notando um aumento da transmissão em contexto social. No final da reunião, Marcelo Rebelo de Sousa indicou que em Lisboa 18% dos casos são contágios comunitários, sem ligação epidemiológica, sendo a percentagem de 26% no Norte.
Já a equipa do epidemiologista Henrique Barros apresentou um estudo em que não encontrou uma associação entre o contágio e o uso de transportes públicos, do qual o Presidente da República deu nota no final da reunião. No briefing diário da DGS, que decorreu já depois da reunião técnica, a diretora-geral da Saúde disse que se trata apenas de um estudo que relacionou linhas de comboio na grande Lisboa e o número de casos na freguesia.“Foi só referente a linhas de comboios a tese, não se referiu nem a quantidade de comboios nem a taxa de ocupação ou lotação. São muitos estudos, isto é uma epidemia nova, todos os estudos valem o que valem e têm de ser contextualizados”, disse Graça Freitas.
RT no Norte acima de 1 desde 12 de junho
Como consta nos relatórios publicados semanalmente pelo INSA, o índice de contágio na região Norte é agora o mais elevado do país, algo também apresentado na reunião no Infarmed. O RT tem estado acima de 1 desde 13 de junho, com o aumento de surtos. No final da semana passada, a ministra da Saúde tinha confirmado 18 surtos e o número subiu para 21. Ontem foi conhecido um foco na Câmara de Paços de Ferreira e o presidente Humberto Brito confirmou ontem que é um dos cinco casos positivos. Já tinham sido detetados outros casos no município, segundo o autarca ligados a uma empresa local e ao estabelecimento de ensino da Escola Básica n.º 2 de Paços de Ferreira.
Ontem a DGS não divulgou pelo quarto dia a distribuição dos novos casos por concelho. A secretária de Estado Adjunta da Saúde garantiu que está a ser feito trabalho no sentido de retomar a divulgação destes indicadores. Foram detetados no país 443 novos casos de covid-19, 327 em Lisboa e 77 na região Norte. Registaram-se mais 269 doentes recuperados e dois óbitos, abaixo dos dias anteriores.
O dia ficou marcado pelo anúncio de que a Bélgica, Finlândia e Escócia vão também excluir Portugal da lista de países com quem reabrem fronteiras para viagens não essenciais como turismo. A Escola Nacional de Saúde Pública apresentou uma análise rebate o indicador usado pelo Reino Unido e demais países europeus. Com base nas estimativas da taxa de notificação de casos feitas por investigadores do Imperial College e London School, os autores concluem que a taxa de notificação em Portugal ronda os 80%, acima de outros países europeus, e que a incidência real da epidemia no país não será assim tão diferente de outros países é inferior à que se regista no Reino Unido. Para os investigadores, Portugal está a ser penalizado por uma métrica que não reflete corretamente a gravidade da epidemia no país e por testar mais que os outros países, incluindo casos assintomáticos. “Só se encontra o que se procura”, escrevem, argumentando ainda que “mais de 70% dos novos casos de COVID-19 no país estão concentrados nos 5 concelhos da periferia de Lisboa, onde se localizam as 19 freguesias com contextos de grande vulnerabilidade socioeconómica, e que continuam sujeitas a medidas de mitigação que correspondem ao estado de calamidade. Nenhuma destas freguesias se encontra nos circuitos turísticos de Lisboa”.