Mário Centeno – outrora o CR7 das finanças, desqualificado nos tempos presentes para o Zivkovic da República Portuguesa: o jogador do Benfica qualificado como uma eterna promessa, que não joga, parece não contar para os planos futuros do clube, mas aufere um ordenado chorudo para se sentar nas reservas de luxo de Luís Filipe Vieira – cedeu o seu lugar na liderança do Eurogrupo a Paschal Donohue. Surpresa? Nem por sombras.
A escolha do irlandês para suceder a Mário Centeno só pode ser encarada como surpreendente pelos cegos ideológicos, pelos fanáticos de profissão – ou pelos ingénuos desta vida. Na verdade, esta escolha confirma a tese que nós temos aqui advogado há três anos a esta parte: a de que toda a exaltação ao Governo de Costa e a santificação de Mário Centeno não passaram de um puro exercício de propaganda política muito conveniente às instâncias europeias.
Deixemo-nos de rodeios: o estrelato de Mário Centeno só aconteceu porque se revelou, numa primeira fase, muito conveniente a Angela Merkel e ao establishment da União Europeia. No final do ano transato, porém, Mário Centeno – à semelhança do Governo de António Costa, como se verá mais cedo do que tarde – tornou-se mais um problema, um incómodo, do que uma solução.
Ora, por que razão Mário Centeno e Costa foram, em certo período histórico, a solução para avançar (ou, pelo menos, aguentar) a agenda de certa burocracia europeia, sendo desaconselhada, neste momento, uma solução de mera continuidade? Três razões.
Primeiro: a União Europeia ainda vivia em 2016/2017 o rescaldo da aplicação de intensos e duros (como sabemos – e muito bem) programas de austeridade financeira, o que gerou naturalmente um desgaste político significativo das próprias estruturas político-administrativas da União.
Antevia-se, assim, a emergência de nova situação de crise para as burocracias de Bruxelas e para a potência liderante da União Europeia (a Alemanha), sobretudo após as históricas vitórias do “BREXIT” no Reino Unido e do Presidente Donald Trump, nos EUA. As elites e a troika do poder financeiro, burocrático e político perceberam que não basta dominar as estruturas tradicionais de poder, manipulando o povo, para assegurar a reprodução natural das opções políticos e dos dirigentes políticos.
Pela primeira vez desde há muito, a direita dos interesses e a esquerda dos interessados viram ameaçada a velha regra de que “deve-se mudar para que tudo fique na mesma. E reagiram em conformidade: neste contexto, Angela Merkel – com a sua intuição política, embora sempre por terceiras pessoas, em função do seu reconhecido medo de tomar decisões e assumi-las – percebeu que não poderia puxar por partidos e personalidades à direita, que representassem a ortodoxia financeira dos anos precedentes. A solução seria, antes, enaltecer os méritos (fossem eles quais fossem) dos “partidos populaxistas” de esquerda portugueses.
Percebeu que teria em Portugal e em António Costa o escudo ideal para proteger o establishment da burocracia europeia, utilizando-os como mascotes para mostrar aos restantes países europeus o quão progressista a União é, afastando-se da direita que havia apoiado nos anos anteriores. Merkel e seus seguidores pensaram, desta forma, conter o crescimento da onda populista e popularista no contexto europeu.
Segundo: Portugal poderia ser utilizado simultaneamente como exemplo do sucesso das políticas financeiras ortodoxas e das reformas que se exigiram anteriormente – e do necessária mudança de discurso, que não de políticas substantivas, que se lhe seguiu.
A dupla Costa/Centeno foi, pois, utilizada como ponte útil para a mudança estratégica de discurso que a Alemanha e a burocracia europeia sentiam como vital para a contenção de partidos políticos que ousassem desafiar o status quo europeu.
Todas as notícias, na imprensa internacional, louvando o Governo socialista/comunista/bloquista visavam gerar uma onda de contrainformação: ou porque o Governo português percebeu que tinha que dar um sinal aos mercados e ao mundo que não iria capitular às teses comunistas mais radicais para se manter no poder, gastando largos milhares de euros dos contribuintes portugueses para comprar reportagens em revistas como a “The Economist”; ou porque a Alemanha, em manobra típica de contrainformação, incentivou jornalistas alemães e fontes que lhe são próximas em jornais de referência internacional a aumentar o valor político-comercial de Mário Centeno.
A propaganda montada acabaria por conduzir à indigitação de Mário Centeno como Presidente do Eurogrupo, permitindo à Europa um rosto simpático, quase comicamente ternurento, que fizesse o contraponto com Schäuble, sem colocar em causa as políticas de Schäuble.
Terceiro: António Costa e Mário Centeno fizeram o seu papel, ampararam Merkel e o establishment europeu – mas todo o engano chega ao fim.
As marionetas têm sempre um período de validade – e o período de validade da marioneta Centeno chegara ao fim. Daí que a Alemanha, cuidadosamente, tenha invertido a sua política de contrainformação: se os jornais alemães haviam sido utilizados para alavancar Centeno para o levar à presidência do Eurogrupo – nos últimos meses, os mesmos jornais serviram para liquidar politicamente Mário Centeno como Presidente do Eurogrupo, forçando a sua sucessão.
Pois bem, se a Alemanha (com a ajuda dos seus aliados mais próximos na União Europeia) forçou a saída de Centeno, por que razão haveria de escolher a Ministra espanhola que seria a continuidade (para muito pior!) de Centeno? Não faria sentido. Seria ilógico – não se iria mudar um Ministro da esquerda irresponsável por uma Ministra da esquerda lunática e criminosa (que é a esquerda espanhola que está no poder).
A Ministra espanhola iria claramente ficar a chuchar no dedo – ou a coçar o cabelo do seu camarada Pablo Iglésias, à beira da bela piscina da mansão luxuosa deste revolucionário bolivariano/chavista. Enquanto o governo desta esquerda espanhola criminosa estiver no poder, a Espanha não terá um único cargo internacional relevante.
A escolha só poderia recair em alguém que marcasse uma rutura com Mário Centeno. Desde logo, porque ao contrário de Centeno, o novo Presidente do Eurogrupo conduziu, de facto, uma VERDADEIRA recuperação económica, com criação de riqueza e emprego. Emprego para todos – e não apenas para as esposas, para os primos, para os tios, para os irmãos, para a família alargada de Carlos César e restantes muchachos socialistas-costistas…
Angela Merkel percebe que, em tempos de crise, não há socialista que resista – nem há Estados que resistam a socialistas.