O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, anunciou esta semana, no Algarve, que só vai anunciar se é recandidato ao cargo presidencial em dezembro. Afinal, já não é novembro como tinha dito até agora. O raciocínio do chefe de Estado é o seguinte: os portugueses não iriam perceber que estivesse em campanha presidencial em meses tão importantes como os de setembro, outubro ou novembro, quando o país pode sofrer os efeitos (ainda maiores) de uma crise económica e social, sem contar com a crise sanitária.
Parece claro também que Marcelo não terá diretor de campanha (há cinco anos foi o social-democrata Pedro Duarte) se decidir avançar. E a campanha será curta, ou seja, não mais de dez dias. A situação do país e a forma como está a gerir a sua relação com o Governo obrigam o Presidente a resguardar-se, por um lado, e vestir o fato de chefe de Estado a tempo inteiro, por outro.
Mais, há quem tenha visto a decisão de colocar um ponto final nas reuniões quinzenais no Infarmed como uma forma de descolar do Governo. Marcelo cumpriu por dez vezes o papel de porta-voz dos encontros, fazendo uma síntese que poderia competir ao Executivo. As circunstâncias, com a decisão de decretar o Estado de Emergência, acabaram por ditar que fosse o Presidente a cumprir essa missão.
Até às eleições presidenciais também ninguém antecipa um cenário de instabilidade política. Marcelo não poderia convocar eleições antecipadas e qualquer sinal de crispação pode ser amortecido com a necessidade combater a crise, seja ela social, económica ou sanitária. Esse papel de amortecedor de eventuais crispações terá também de ser avaliado a todo o momento pelo próprio Presidente da República. Por isso, estendeu o prazo de decisão, ao mesmo tempo que procura ter um retrato fiel do que se vai passando no país.