No primeiro semestre de 2020, 1313 empresas declararam-se insolventes em Portugal, o que representa um crescimento de 2% face ao mesmo período do ano passado e um volume de negócios superior a 550 milhões de euros, destaca a análise da companhia de seguro de créditos Cosec.
Estas insolvências representam uma perda potencial de 10 803 postos de trabalho e cerca de 172 milhões de euros de créditos a fornecedores por regularizar.
As microempresas continuam a representar uma grande parcela dos casos de insolvência, com uma quota de 45%. Esta tem sido a tendência desde 2009. Cerca de 67% do número de postos de trabalho em risco e 74% do valor de créditos a fornecedores estão concentrados nas micro e nas pequenas empresas, o que reflete o peso destas empresas no total das empresas insolventes e a sua maior vulnerabilidade face aos desafios do panorama económico atual, indica o relatório.
A registar um ligeiro acréscimo (de 22,4% no primeiro semestre de 2019 para 23,3% para o mesmo período em 2020), o setor dos serviços continua a liderar em número de insolvências, com 306. Seguem-se o setor da construção (14,4%), com um total de 189 empresas insolventes, e o setor do retalho (13,1%), com 172.
Na categoria de empresário em nome individual, registaram-se, no primeiro semestre de 2020, 148 insolvências, 11% do total do número total em Portugal.
No que respeita à distribuição geográfica, os resultados das insolvências mantiveram-se comparativamente ao mesmo período em 2019. O Porto apresenta o maior número (25,1%, contra 27,2% no primeiro semestre de 2019), seguido de Lisboa (20,3%, contra 17,3%) e do distrito de Braga (13,3%, contra 13,2%). Os distritos de Beja, Portalegre e Évora continuaram a registar o menor número de insolvências, com um total de 25 casos.
Novas empresas. Até maio de 2020, foram criadas em Portugal 17 503 empresas, o que representa um decréscimo de -35%. Continuaram na liderança os setores dos Serviços (4260 empresas), Retalho (2125) e Construção (2047). Lisboa (5571 empresas), Porto (3276), Braga (1370) e Setúbal (1274) foram os distritos onde se registou um maior número de novas empresas.
Os pedidos de Processo Especial de Revitalização (PER) diminuíram 30% neste primeiro semestre (foram 178, no total, contra as 253 registadas nos primeiros seis meses de 2019). Os setores que registaram o maior número de pedidos de acesso a este mecanismo foram os setores dos Serviços (28 empresas), Alimentação (26) e Construção (24), sendo 58% do universo total em empresas com mais de 10 anos.
Aumento de 35% nas insolvências até final de 2021. A Euler Hermes, acionista da Cosec, aponta para um aumento das insolvências a nível global na ordem dos 35% até final de 2021, ano em que deverão registar-se 361 825 insolvências. Estes números representam um recorde, uma vez que esta subida será superior à registada na crise de 2009. As estimativas indicam uma subida de 17% em 2020 (sobretudo na segunda metade do ano) e de 16% em 2021.
O cenário pode, porém, piorar, caso as medidas de apoio estatais adotadas forem levantadas demasiado depressa. Segundo o estudo, estes números podem sofrer um aumento entre 5% e 10%. Apesar de o cenário base ser o de uma recuperação em “U”, os analistas alertam para a possibilidade de a retoma ser mais lenta. Se a recuperação for em forma de “L”, o índice de insolvências poderá aumentar entre 50 e 60 pontos percentuais.
A Euler Hermes estima que, até 2021, e tendo como base de comparação o ano de 2019, as insolvências vão aumentar sobretudo nos Estados Unidos (+57%), no Brasil (+45%) e na China (+20%). Na Europa, Portugal está entre os mais afetados, com um aumento de 44%, tal como a Irlanda, e próximo do Reino Unido (+43%), Holanda (+42%) e Espanha (+41%). Itália (+27%), Bélgica (26%) e França (+25%) deverão também apresentar valores elevados.
No caso da economia portuguesa, as estimativas apontam para um aumento de 30% nas insolvências até ao final do ano. Esse crescimento deverá abrandar em 2021: a previsão de aumento do número de insolvências no próximo ano é de 10%.