A urgência noturna de oftalmologia em Lisboa, que é garantida alternamente pelo Hospital de Santa Maria e pelo São José, vai manter-se, pelo menos para já. A Ordem dos Médicos e o colégio de oftalmologia consideraram ontem inaceitável a decisão que tinha sido tomada pela Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo de suspender esta valência em Lisboa, com indicação de que se manteria um médico de prevenção (em regime de chamada) para os doentes internados mas os restantes casos deveriam passar a ser atendidos no dia seguinte, ou nos hospitais da zona de origem ou nestes hospitais. Depois da tomada de posição da Ordem e do colégio, o Centro Hospitalar Lisboa Norte, que integra o Santa Maria, esclareceu que vai continuar a assegurar a resposta, pelo menos até haver uma clarificação da situação. “Tendo em conta que o modelo de reorganização da UML-Oftalmologia, apesar de científica e clinicamente válido, não reúne ainda o necessário consenso alargado, o CHULN decidiu, em articulação com a Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo, manter o modelo anterior, garantindo uma escala de urgência em presença física.” Questionado pelo i, o Centro Hospitalar de Lisboa Central não tomou posição. Já a ARS, responsável pela articulação entre as unidades, não se pronunciou até à hora de fecho desta edição.
Decisão era para entrar em vigor na segunda-feira
Segundo o i apurou, a proposta de revisão da urgência metropolitana na área de oftalmologia tinha sido delineada e acordada nas últimas semanas pelas duas instituições e a proposta, validada pela ARS, devia ter entrado em vigor esta segunda-feira.
A baixa casuística da urgência noturna de oftalmologia foi um dos argumentos para pensar num modelo diferente de atendimento, que implicaria passar a encaminhar os doentes que procurassem a urgência entre as 20h e as 8h para atendimento no dia seguinte, assegurando resposta a situações internas. Uma solução que a Ordem considera inaceitável, por diferir os cuidados e por ter implicações em todo o Sul do país, já que não existe urgência noturna de oftalmologia no Algarve e no Alentejo e toda a região de Lisboa e Vale do Tejo ficaria assim sem esta cobertura no período noturno, sendo a urgência mais próxima Coimbra. “A Ordem dos Médicos e o Colégio de Oftalmologia consideram esta decisão administrativa inaceitável, que deixa sem uma resposta diferenciada de prontidão e de qualidade toda a zona sul do país”, denunciou ontem de manhã a Ordem, contestando as orientações emitidas pela ARS. “A ARSLVT invoca que com este encerramento está a ‘garantir a segurança necessária e o cumprimento das normas recomendadas pelo Colégio da Especialidade de Oftalmologia da Ordem dos Médicos’, o que é uma afirmação que invoca de forma abusiva e inadmissível o nome do colégio e da Ordem”, disse a ordem em comunicado.
A ordem contesta também que um médico de prevenção em cada unidade possa ser solução, argumentando que essa dotação compromete a resposta a casos em que os doentes precisem de intervenção cirúrgica. “De acordo com as normas do Colégio de Oftalmologia, a equipa tipo para urgências de oftalmologia com mais de 20 urgências (como é o caso do CHULN e CHULC) é composta por dois médicos em presença física, até porque em caso de necessidade de intervenção cirúrgica são necessários dois especialistas. No caso dos serviços que asseguram as urgências metropolitanas (Porto, Coimbra e Lisboa) onde seja expectável garantir cuidados cirúrgicos de urgência, defende-se até que os serviços tenham um terceiro elemento em regime de prevenção para garantir o normal funcionamento da urgência sempre que necessário”. Ao i, o bastonário dos Médicos, Miguel Guimarães, adianta que já foram solicitados esclarecimentos à ARS e que o colégio quer ouvir os responsáveis dos serviços, para perceber o que levou a ser apresentada uma proposta que contraria as normas. Miguel Guimarães sublinha que esta decisão colocaria o país a duas velocidades, com Centro e Norte com urgência de oftalmologia durante a noite e todo o Sul sem esta valência. “Numa altura em que devíamos estar a reforçar a resposta do SNS e aumentar o acesso, é feita uma proposta que o reduz”, contesta.
O Santa Maria, que está a assegurar a resposta esta semana, informou que esta segunda-feira, ainda antes de optar por manter o modelo que vigorou até aqui, manteve o modelo presencial, uma vez que a especialista que estava escalada permaneceu em presença no Hospital de Santa Maria durante todo o período. O novo modelo não chegou assim a entrar em vigor e a ARS não esclareceu ontem o que se passará daqui para a frente.