«Precisamos de uma base de entendimento sólida e duradoura», afirmou ontem o primeiro-ministro sobre o Estado da Nação, no Parlamento. Na prática, António Costa pediu um novo acordo aos parceiros de esquerda para no horizonte da legislatura. Mais, numa resposta à coordenadora do BE, o chefe de Governo endureceu o registo de desafio: «Quem conseguiu que não houvesse maioria absoluta tem também responsabilidade de garantir que continua a geringonça».
Catarina Martins tinha respondido que o seu partido «nunca esqueceu o seu mandato de políticas de esquerda». Ou seja, «nunca colocámos o nosso mandato dentro da gaveta», ripostou a dirigente do BE, recordando que foi o PS quem não quis fazer um novo acordo formal em 2019 para a Legislatura. Em todo o caso, não disse não a um novo desafio, apesar das reservas.
Já Jerónimo de Sousa, secretário-geral do PCP, avisou que «não é possível responder aos problemas nacionais, com baixos salários, palavra que parece ter sido banida» e deixou um caderno de encargos para um hipotético casamento: «Uma política de esquerda, patriótica, o aumento geral dos salários para todos os trabalhadores, a valorização das carreiras, combate à desregulação de horas, com a reposição das 35 horas semanais para a Administração Pública e o combate à precariedade e revogação das normas gravosas da legislação laboral». O PEV passou ao lado do desafio de Costa e preferiu destacar que o acordo para o Conselho Europeu foi «arrancado a ferros».
No debate de 233 minutos ficou claro também que Costa quis deslocar do PSD. Rui Rio, presidente dos sociais-democratas, registou o novo pedido de «casamento de papel passado» à esquerda e alertou para «mais um episódio de rendas garantidas, agora para o hidrogénio». Costa respondeu, mais à frente, a considerar que «não se pode contar com o PSD para o futuro» ou que «o PSD é hoje o partido dos velhos do Restelo». Que nada aprendeu com a história, porque «é contra o hidrogénio e está fossilizado na defesa das energias fosseis».
Na primeira ronda de debate, ficou a saber-se que a Deloitte pediu para prorrogar a auditoria ao Novo Banco (a mesma que quase ditou a saída de Mário Centeno do Governo um mês antes do previsto) e que o atual ministro das Finanças, João Leão, recusou. A auditoria terá de chegar até ao final deste mês. Mas, o líder do PSD pediu ainda que o Ministério Público investigue a execução do contrato de venda do Novo Banco à Lone Star.
No debate ficou a garantia de que o aeroporto do Montijo não avança enquanto não foram resolvidos os problemas ambientais na Moita. «Não tem sido fácil, mas somos persistentes», advogou Costa.
O primeiro-ministro ainda considerou « um massacre chocante e intolerável» a morte de dezenas de cães no canil em Santo Tirso.