António Costa fechou o debate do Estado da Nação a lançar um apelo à esquerda para um ‘novo casamento’ para a atual Legislatura e esta semana procurou esvaziar qualquer hipótese de uma reedição de um Bloco Central, leia-se um acordo entre PS e PSD. Em entrevista à Visão, Costa foi claro: "Seria um erro proceder à sua reedição. Andar à procura do bloco central é como andar à procura dos gambozinos. É um mito urbano, que não está aí para se concretizar".
Mais uma vez, o chefe de Governo voltou a insistir no argumento da estabilidade política, piscando novamente o olho à esquerda. "Acho que ninguém compreenderia que, sendo claro para todos que a resposta a esta crise não é a austeridade, não fosse com aqueles com quem virámos a página da austeridade que fizéssemos agora este caminho", atirou Costa, assestando baterias não só para a legislatura (até 2023), mas também para o imediato: o Orçamento do Estado para 2021. Neste quadro também se inclui o PAN (mas para já não há nova reunião agendada, apesar de ter ficado aprazada mais uma antes das férias de verão). A primeira ronda ocorreu há duas semanas em São Bento.
Ainda sobre o PSD, o primeiro-ministro sublinhou que o partido liderado por Rui Rio "se foi afastando dos setores mais dinâmicos e inovadores da sociedade portuguesa".
Quanto ao acordo alçando em Bruxelas para um plano de recuperação económica, insistiu em usar a expressão "bazuca", mas deixou um aviso: "Não nos podemos queixar da falta de poder de fogo. A parte da Europa, a Europa fez». Ou seja, agora é preciso saber aproveitar os apoios «e não falhar o tiro".
Costa também foi confrontado com a sucessão no PS. E garantiu que não tenciona "designar sucessor nem intervir nessa escolha". Mais, "no momento em que eu considerar que é altura de deixar a liderança do Partido Socialista, procurarei não incomodar ninguém nessa transição", declarou.
O também líder do PS disse que convive bem com eventuais ambições internas, não é nada que lhe tire o sono, mas deixou uma frase enigmática que soou a sugestão: "O PS tem, felizmente, muitas soluções nas novas gerações. Quem lhe diz que não pode ser uma mulher?". Entre os hipotéticos potenciais candidatos à sucessão de Costa estão os nomes de Pedro Nuno Santos, Fernando Medina, mas também Ana Catarina Mendes, como o SOL tem vindo a noticiar.
Entretanto, na última edição do jornal Avante!, o dirigente comunista Francisco Lopes não disse uma palavra sobre os apelos de Costa para um novo entendimento com o PCP: "O caminho não é o das opções do Governo PS, da convergência do PS e PSD com o patrocínio do Presidente da República (…)", escreveu o destacado dirigente comunista, apontado há muito como um dos possíveis sucessores de Jerónimo de Sousa na liderança do PCP.