Esta semana foi claramente marcada pela venda de um conjunto de imóveis do Novo Banco a um Fundo de Investimentos com ligações ao Luxemburgo e às Ilhas Caimão, em que certamente tudo foi feito dentro da lei. No entanto, pelo que se lê, o Fundo de Resolução terá coberto os prejuízos, para já financiado pelos contribuintes portugueses que hoje adiantam o dinheiro na esperança de serem ressarcidos, talvez em 40 anos. Assim, só me resta dizer: aguardo (bem sentado) pelos desenvolvimentos.
Há uns tempos, já o Expresso tinha noticiado umas vendas de imóveis efetuadas a José António Santos bem abaixo dos valores de avaliação, mas não me recordo que fosse feita a ligação ao facto do Novo Banco ser ressarcido pelo Fundo de Resolução. Será que também foi? Já sabemos que ilegalidades não houve de certeza, mas caramba – será que poderíamos como contribuintes ter tido a escolha de ficar com os bens ao preço de saldo ou, pelo menos, ter sido consultados sobre a bondade do negócio?
Vamos mas é falar de outros temas mais comezinhos e menos de alta finança, da qual pouco ou nada entendemos, enquanto aguardamos os inquéritos que se irão desenrolar e os resultados (adiados) da prometida auditoria. Razão tinham Marcelo e Costa para desejar conhecer os resultados das auditorias antes de pagar os 850 milhões de euros, mas Centeno, preocupado com o bom nome de Portugal, entendeu que contratualmente o melhor é pagar e esperar as auditorias depois…
Mudando de tema, ficámos a conhecer os dados de 2019 da Pordata. Uma leitura breve do documento mostra que muito temos com que nos preocupar. Por exemplo, em 10 anos, a população nacional diminuiu cerca de 282 mil pessoas, apesar do saldo positivo de muitas imigrações que excederam claramente as emigrações (44.506 – o superavit só em 2019).
A situação agrava-se substancialmente na faixa entre os 25 e os 39 anos, com um decréscimo bem significativo. Nestes 10 anos, este grupo etário perdeu 530 mil pessoas – quase 25%. A demonstrar a preocupante falta de jovens, até aos 15 anos, em 2019, há menos 222 mil do que em 2009, ou seja um decréscimo de 14%.
Podemos continuar para outros dados igualmente preocupantes e que, em conjunto com os dados anteriores, inequivocamente demonstra o envelhecimento populacional: o número de idosos aumentou em cerca de 18% – em 2019, havia mais 350 mil pessoas com mais de 65 anos do que em 2009. Ou seja, enquanto o número de jovens diminui, o dos idosos cresce.
Quais os impactos na Segurança Social? Contas simples de fazer significam que vamos ter cada vez menos ativos a financiar reformados. A esperança média de vida aumenta e a situação tende a agravar. Ignorar isto ou optar por empurrar com a barriga, só pode dar mau resultado, sobretudo quando vemos o atual Governo PS a querer ser apoiado por uma esquerda apenas reivindicativa de direitos sem cuidar de como financiar os mesmos.
Outro dado que demonstra bem a precariedade da economia portuguesa é a dependência de Portugal do setor terciário: os serviços, que ocupam cerca de 70% da população. Sentimos esta realidade através do recente ‘boom’ do turismo e, em plena pandemia e no Verão, constatamos que o setor está a afundar. Uma certeza temos – o inverno vai ser dramático, pelo que urge um novo modelo económico e social.
Assim, nada surpreende o estudo da DECO – ao referir que os portugueses estão a comprar muito menos (apenas ou quase o essencial), têm receio de espaços fechados e o slogan governamental que Costa e Marcelo brandiram de fazer férias cá dentro, está a cair em saco roto: cerca de 75% cortaram nas férias! Surpreende? Claro que não, porque os que estão em layoff serão uns 470 mil, segundo a ministra do Trabalho.
A juntar a isto, saíram os números do desemprego: cerca de7%. Mas fica a pergunta: quantos destes trabalhadores ‘protegidos’ pelo layoff irão para o desemprego quando terminarem os apoios governamentais? Basta ver os negócios de bairro a cair, os centros comerciais em desespero pelos citados receios dos espaços fechados para sabermos que os próximos meses nada auguram de bom.
A finalizar e para não falar da ‘caça aos gambuzinos’, temos um Governo que em resposta a uma benesse de Rio sobre os debates quinzenais acena provocatoriamente com uma aliança à sua esquerda, com partidos totalmente antieuropeus? Expliquem-me lá quais serão os investidores internacionais que considerem Portugal como alternativa perante este cenário governamental?
P.S. – Uma palavra para Francisco Assis, sempre um Senhor! Reconhecer na esfera socialista o trabalho de Passos Coelho é, atualmente, um ato temerário, mas de inegável justiça que inequivocamente o honra.