1.Com uma estranha frequência, estão a acontecer crimes horrorosos. Mães que matam filhos, filhos que matam pais, agora foi o assassínio a tiro de um português negro. Vi vizinhos e colegas de trabalho a chorarem o homem. 99,9% eram brancos!
E logo, quais abutres a que quem o jornal que os serve dá asas, o senhor Mamadou Ba e a senhora D. Catarina Martins vieram vampirizar a tragédia. «Há racismo em Portugal», disse ele, agora com a expressão taticamente mais contida de uma banalidade, mas querendo afirmar a infâmia que gritou sempre: Portugal é um país racista, os portugueses são um povo racista.
Claro que há racismo por todo o mundo; mas Portugal não é um país racista, os portugueses são, pelo contrário, particularmente tolerantes. Terra de gente boa, acolhedora, solidária, apesar da nossa pobreza relativa persistente.
E se a vítima fosse o branco e o criminoso o negro? E se fosse aquele a agredir o negro e a ameaçá-lo com o cão? Gritariam racismo?
Nunca se pode determinar absolutamente o que motiva um crime. Mesmo quando o leitmotiv é assumido pelo assassino, é impossível saber todos os componentes sinérgicos que o desencadeiam.
Se o português assassinado em Moscavide fosse velho em vez de novo, gordo e não magro, simpático e não embirrante, feio em vez de bonito, anónimo e não figura de telenovela, branco e não negro, o crime teria acontecido?
2. Semeadores de racismo
Se houver um crime maior, eis o maior entre todos os crimes: pôr os portugueses uns contra os outros.
3. Racismo
Estátua de Colombo vandalizada no Funchal.
Quando começam a ser enfrentados decididamente estes crimes de lesa-civilização, inquestionavelmente racistas?
4. Os ‘cafres da Europa’? *
A propósito do plano Costa Silva e da ideia ‘apostar nas pessoas’, Manuel Fonseca escreveu sabiamente numa das suas crónicas do Correio da Manhã que «o livro é o tapete mágico da entrada na ciência e na economia, na universidade e na medicina. Político que não lê arrisca-se a ser político-besta. O livro tem de ser o arroz com feijão do plano de recuperação de Portugal». E eu lembro que não há livros sem escola.* Uma escola que veicule e exija os saberes que contam, exercite os instrumentos do conhecimento, pratique a ginástica da inteligência e da vontade*. Escola que, não sendo condição necessária e suficiente do desenvolvimento, é comprovadamente condição necessária dele.
Mas a escola que temos, fingindo o contrário, prepara para a pobreza, a dependência e a submissão. Infantiliza e desresponsabiliza. E, quando se desresponsabiliza, mata-se a liberdade.
Enquanto tivermos uma escola assim, e uma universidade como tivemos sempre, não haverá planos Costa Silva que nos salvem. Continuaremos a ser – atualizados pelo que a História nos traz e nos dão de fora – «os cafres da Europa», como disse o padre António Vieira.
* Citado por Landes, A Pobreza e a Riqueza das Nações, Gradiva. Um livro que recomendo vivamente ao eng.º Costa Silva. E aos portugueses.