Sejamos claros: se houvesse coragem e coerência políticas a Festa do Avante! seria proibida, como foram proibidos os festivais de Verão, e canceladas inúmeras festas e romarias, quebrando tradições antigas, com graves prejuízos para o pequeno comércio local e feirantes, cujo sustento muito depende desses eventos.
Ao arrepio das restrições em vigor, impostas pela DGS – um departamento técnico que se politizou durante a covid-19 –, o PCP não só manteve a festa, como anunciou, ufano, esperar a vinda de 100 mil pessoas, alheando-se da crise sanitária que o Pais continua a viver, que fechou estádios aos adeptos e limitou várias atividades lúdicas e de convívio social.
Tal como a CGTP no 1.º de Maio na Alameda, que arregimentou manifestantes em autocarros (alguns camarários…) para os sujeitar, depois, a uma bizarra coreografia no comício, o PCP apregoa agora «cuidados suplementares na limpeza e higienização de todos os espaços da Festa».
É uma treta para enganar incautos e suavizar uma teimosia irresponsável, cujo único fito será não privar os cofres do partido de uma receita avultada.
Prevalece-se o PCP da infeliz palavra dada pelo primeiro-ministro ao assumir, ainda em maio, que não lhe «passa pela cabeça proibir a atividade política», como se o ‘core business’ da festa fosse esse.
Bastaria a António Costa inteirar-se do cartaz para perceber o logro em que caiu, por distração ou santa inocência. Ou fazer as contas à receita expectável, com ingressos a custarem entre 28 e 38 euros… a ‘título de solidariedade’!…. Fora as barraquinhas de ‘comes e bebes’. Um maná.
A realidade é que a romaria comunista na Quinta da Atalaia tem todos os ingredientes habituais de um festival de Verão, e o valor cobrado nas entradas não será, com certeza, para ouvir Jerónimo de Sousa atuar como ‘artista principal’….
Quantas pessoas poderão contrair a covid-19 por causa desta leviandade? Nunca se saberá, como nunca se soube se alguns manifestantes da Alameda não ficaram infetados, cumprida a militância.
Os produtores e organizadores de eventos de Verão, obrigados a desistir, têm doravante o legitimo direito de protesto e de indignação, perante um governo que aplica critérios diferentes consoante lhe dá jeito, repetindo uma arbitrariedade imperdoável em democracia. Uma vergonha.
A praga dos incêndios florestais regressa todos os anos por esta altura. Portugal está entre os países europeus onde a floresta, em média, mais arde e foi considerado o que registou maior área ardida em 2017 e 2018, de acordo com um relatório anual elaborado pela Comissão Europeia.
Destrói-se um património que resistiu durante séculos, praticamente intacto, como aconteceu com o Pinhal de Leiria, uma mata pública, que ardeu em grande parte, vítima da incúria, e sem que alguma vez se apurassem as causas ou os culpados.
O fogo não poupou Pedrógão Grande, com uma dramática lista negra de vítimas, nem Monchique , nem zonas protegidas como a Peneda-Gerês.
Prendem-se uns pastores, uns pirómanos ou alguns indigentes, para calar as perplexidades, soltos quase sempre mais tarde, à sorrelfa, por falta de provas.
E assim se continuam a alimentar os telejornais, com o espetáculo das chamas, a reboque da ‘indústria do fogo’, instalada com os seus dispendiosos dispositivos de aviões, helicópteros e consumíveis, nos quais se derretem milhões.
Se dantes a floresta ardesse ao ritmo atual, o país já não teria uma árvore de pé. O que mudou em democracia? Agravaram-se as patologias incendiárias ou aumentaram os comportamentos negligentes? Agravaram-se as condições climatéricas ou interiorizou-se, simplesmente, a impunidade, enquanto alastra a corrupção?
A floresta não se incendeia por acaso e só por exceção as ‘ignições’ – como agora se papagueia na TV – são espontâneas.
A dissipação periódica desta riqueza não seria um mistério se houvesse políticos capazes, polícias que investigassem a sério e Justiça que funcionasse.
Infelizmente, nada disto acontece, enquanto o primeiro ministro permanece silencioso e o Presidente reparte as férias entre Porto Santo e o Algarve, com ‘selfies’ e as televisões atrás, sem que ninguém o mace com perguntas incómodas.
Estamos nisto: encolhem-se os ombros, enquanto o populismo se expande, à esquerda e à direita, e o país se consome. A epidemia tem muitos rostos…
Nota em rodapé 1: Lê-se e pasma-se. Será possível que um membro do Governo recorra às redes sociais para insultar um professor universitário, especialista em química e energia, só porque se permitiu questionar, na SIC Noticias, as supostas virtudes do hidrogénio?
É admissível que o secretário de Estado da Energia, João Galamba, tenha escrito, com todas as letras, no Twitter, que o referido académico «É um aldrabão, é um mentiroso do pior. Não há outra forma de descrever esse cavalheiro»? (sic) .
E é possível que, depois dos insultos, este discípulo incondicional de Sócrates continue a integrar o Governo, sem se demitir ou ser demitido?
O professor em causa, é Clemente Pedro Nunes, catedrático do IST, que, juntamente com nomes como Abel Mateus ou Mira Amaral, tem vindo a criticar a chamada estratégia para o hidrogénio, com base na fundamentada suspeita de que esta deverá absorver «uma parte significativa dos recursos, financiando projetos sem rentabilidade, usando tecnologias que, por não estarem ainda dominadas, só vão fazer subir custos de produção e preços no consumidor».
Perante um comentário legítimo, concorde-se ou não, poderá um governante – cujo currículo nem sequer o qualifica como sabedor da matéria –, recorrer a uma linguagem grosseira para atingir um seu crítico? E o primeiro-ministro, continuará a fingir que não leu nem ouviu nada? Não se acredita. Mas a confirmar-se que nada acontece, é porque já passámos a linha que nos separava da ‘republica das bananas’.
Nota em rodapé 2: Pela calada, furtivamente, António Costa e Rui Rio pactuaram e deram mais um passo para acelerar a regionalização, com as eleições (indiretas) para as CCDR, contornando o referendo. Mais estranho, é o Presidente da República, adversário da ideia, ter promulgado o diploma, embora ‘chumbasse’ – e bem – a tentativa de ‘regionalizar’ o mar dos Açores e da Madeira. Que se passa em Belém?…
Nota em rodapé 3: Esta coluna vai de férias. Reaparece a 5 de setembro. Até lá.