No início da pandemia houve uma grande ‘corrida’ aos supermercados. Mas muitas das grandes cadeias mostram redução nos lucros. Essa corrida não foi suficiente?
Desde o início da pandemia que parte dos esforços dos associados da APED se concentraram na missão de ‘alimentar Portugal’, contribuindo, ao mesmo tempo, para transmitir uma sensação de relativa normalidade e estabilidade. Estes desígnios correspondiam, aliás, aos objetivos fixados pelo Governo, que, por decreto, manteve o retalho alimentar aberto durante o confinamento que vigorou no país durante quase dois meses. A ‘corrida’ que inicialmente se verificou aos espaços da distribuição – em alguns produtos o aumento da procura foi da ordem dos 300% – traduziu-se num aumento inusitado do consumo que perdurou por algumas semanas e que, naturalmente, aumentou o volume de negócios das empresas da distribuição alimentar. Passado esse momento, o que se notou é que esse volume de negócios, em comparação com igual período do ano passado, estabilizou e em alguns casos, baixou. Trata-se de um movimento natural e que tem a ver com a quebra da procura registada principalmente nos últimos dois meses e que está diretamente relacionada com o abrandamento da economia e as preocupações que os portugueses têm com o seu futuro. É um movimento que não é exclusivo de Portugal e que se verifica na generalidade dos países da União Europeia. Além disso, convém lembrar que as regras de segurança decorrentes da pandemia obrigaram a investimentos avultados por parte de todas as insígnias, garantido assim a segurança dos colaboradores e consumidores, mas com impacto negativo nos resultados.
Nessa altura, houve o risco de rotura alguns produtos?
Nunca esteve em risco o abastecimento de produtos alimentares e de primeira necessidade. Deve dizer-se que o Governo, em colaboração e com o contributo decisivo de todos os stakeholders do setor, deu prioridade ao normal funcionamento das cadeias de abastecimento e distribuição e a situação era monitorizada diariamente, tendo mesmo sido criada (em boa hora) uma Comissão de Acompanhamento da cadeia alimentar e que se revelou decisiva para que tudo corresse com normalidade. A experiência permitiu a todos nós, desde a distribuição ao sistema de transportes e logística, passando pelos fornecedores nacionais, desenvolver novas formas de trabalho, recorrendo cada vez mais às ferramentas digitais.
Isso exigiu um esforço na cadeia de distribuição?
Apesar de ninguém as desejar, as crises são sempre uma oportunidade para a inovação. Tal como em situações anteriores, a distribuição não se limitou a ajustar-se à situação. Em primeiro lugar, teve que adaptar os seus espaços para garantir todas as condições de segurança aos seus trabalhadores e aos consumidores que nos procuram diariamente. Em segundo lugar, foi necessário adaptar todas as operações logísticas aos desafios do aumento da procura, principalmente nos primeiros meses do confinamento onde a capacidade de reposição dos produtos foi fundamental. Em terceiro lugar, o aumento das vendas online, que levou a que se queimassem etapas num processo que ainda estava numa fase de consolidação e obrigou as empresas a redefinirem o seu modo de atuação.
Em relação aos trabalhadores. Foi fácil ‘convencê-los’ a estarem a trabalhar quando o país estava em estado de emergência?
Os 90 mil trabalhadores do setor do retalho alimentar foram inexcedíveis. Numa altura difícil para o país, em geral, e para as suas famílias, em particular, disseram presente e asseguraram que se vivesse o mais próximo possível da normalidade. As empresas reconheceram esse empenho ao terem criado incentivos para os seus trabalhadores e colocando à disposição todos os materiais necessários para exercerem o seu trabalho em condições de segurança. Os espaços da distribuição foram dos primeiros a seguir com todo o rigor as orientações da Direção Geral da Saúde e foram mesmo inovadores neste domínio, antecipando medidas e fazendo novas sugestões.
O que foi necessário fazer para transmitir segurança aos trabalhadores? E em termos de investimento?
Os principais investimentos tiveram a ver com as exigências relacionadas com a higiene e limpeza dos locais de trabalho. Tendo em conta o mês de março, por exemplo, o aumento de custos totais decorrentes da pandemia – e que envolvem outros investimentos como a operação logística e as operações online – foi da ordem dos 15%. Em abril terá sido 5% superior ao orçamentado.
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