O primeiro-ministro, António Costa, teve ontem a sua primeira aparição pública após as férias e tentou esvaziar a polémica do fim de semana: segurou a ministra do Trabalho, Ana Mendes Godinho, e explicou o papel do Governo no apoio e na fiscalização a lares em tempos de pandemia de covid-19, abordando a situação mais delicada, o caso do lar de Reguengos de Monsaraz, com um surto que levou à morte de 18 pessoas.
“Tenho toda a confiança na senhora ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social”, declarou António Costa, recordando que o inquérito ao caso do lar de Reguengos de Monsaraz, onde se verificou um surto de covid-19, foi aberto logo no dia 12 de julho. O caso foi enviado para o Ministério Público no dia 16.
Na base do problema esteve uma entrevista ao Expresso, no fim de semana, em que a ministra admitiu não ter lido um dos relatórios sobre o caso. O relatório era da Ordem dos Médicos. Por isso, Costa saiu em sua defesa e considerou ainda que não houve uma tentativa de desvalorização do problema. A defesa do primeiro-ministro tinha por base esta resposta da ministra: “Tivemos 365 surtos [em abril] e temos 69 agora. Claramente, temos menos incidência. Temos 3% do total dos lares e temos 0,5% das pessoas internadas em lares que estão afetadas pela doença. A dimensão dos surtos não é demasiado grande em termos de proporção. Mas, claro, isto não significa que não devamos estar preocupados”.
Para Costa, não é tempo de alimentar polémicas artificiais.
“Eu não gosto de alimentar polémicas, e sobretudo numa fase de crise como esta, em que há tanta gente a sofrer, não devemos alimentar polémicas. Por isso, o que faço é alargar o estômago para ter maior capacidade de digestão de muitas das coisas que vou ouvindo. Porque não é de polémicas que o país precisa, o país precisa é de soluções para os problemas”, atirou o primeiro-ministro, tentando suster a polémica: “Não vale a pena pedirem a demissão. Quando não tiver confiança [num governante], eu resolvo o problema. Tenho toda a confiança na senhora ministra Ana Mendes Godinho e no trabalho excecional que tem vindo a fazer”.
Nas declarações proferidas no Centro de Coordenação Operacional Nacional (CCON), na Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil, Costa quis assim responder aos pedidos de demissão da ministra feitas pelo CDS e pelo Chega.
Pelo caminho, ainda considerou: “O que não podemos fazer é confundir a árvore com a floresta. Isso é muito importante, porque as famílias têm pessoas que estão internadas nos lares. Nós não podemos criar uma situação de alarme que não se justifica”, defendeu o primeiro-ministro.
Uma hora antes, de visita a uma IPSS em Alcanena, a ministra do Trabalho, Ana Mendes Godinho prometia ter como missão proteger quem precisa. “Desde o início que os lares têm sido uma prioridade total do Governo”, assegurou a governante, adiantando que já leu o relatório da Ordem dos Médicos sobre o caso do surto de covid-19 num lar em Reguengos de Monsaraz. De recordar que o Presidente da República aconselhou a que se lessem todos os relatórios durante o fim de semana. A governante acrescentou que os relatórios “têm elementos contraditórios”.
Já Francisco Rodrigues dos Santos, líder do CDS, fez um comentário crítico no Facebook: “Exige-se a António Costa que meta na ordem o seu Governo e o PS. Portugal não tem donos, o PS não é o Dono Disto Tudo. Face ao filme de terror sobre as mortes em Reguengos de Monsaraz que todos os dias conhece novos enredos, é o primeiro-ministro que deve explicações ao País. António Costa é líder do partido que governa Portugal, que escolheu Ana Mendes Godinho para Ministra, que nomeou Graça Freitas para Diretora da DGS, que tem como camarada José Robalo, Diretor Regional de Saúde, e que patrocinou a eleição de José Calixto para Presidente da Câmara de Reguengos de Monsaraz, o mesmo que também preside à Fundação que detém o lar”, escreveu o líder centrista, aludindo a uma teia socialista que o PSD também já tinha levantado.
Os sociais-democratas querem, por seu turno, obter todos os relatórios sobre o caso de Reguengos de Monsaraz. Existem quatro.
Entretanto, Catarina Martins, do Bloco de Esquerda, citada pela RTP3, considerou “muito infelizes” as declarações da ministra.