O número de desempregados inscritos nos centros de emprego ultrapassou os 407 mil portugueses, até final de julho, de acordo com os números divulgados pelo Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP). “No fim do mês de julho de 2020 estavam registados 407 302 indivíduos desempregados, número que representa 74,5% de um total de 546 846 pedidos de emprego”, diz o IEFP.
Estes dados representam um aumento de mais 110 mil desempregados inscritos face ao mesmo período de 2019, ou seja, mais 37%. Em comparação com junho, o aumento foi de 0,2%, isto é, mais 637 desempregados inscritos. “Para o aumento do desemprego registado face ao mês homólogo de 2019 contribuíram todos os grupos do ficheiro de desempregados, com destaque para as mulheres, os adultos com idades iguais ou superiores a 25 anos, os inscritos há menos de um ano, os que procuravam novo emprego e os que possuem como habilitação escolar o secundário”.
Henrique Tomé, analista da XTB, admite que o número de desempregados em Portugal tem estado a abrandar, uma vez que considera que também atravessamos uma situação atípica devido à pandemia. “Este abrandamento no número de inscritos nos centros de emprego não surpreendeu, uma vez que, aos poucos, a normalidade retome, as empresas voltam a contratar mais pessoas”, refere ao i, acrescentando que o “pico da pandemia já teve lugar em meses anteriores e, desta forma, o que podemos esperar daqui para a frente é um clima de prosperidade, que já é notado no mercado acionista, onde temos empresas a alcançarem máximos históricos e os principais índices também a recuperarem das quedas pré-pandemia”.
Mas Henrique Tomé lembra que esta “recuperação depende do consumo, que será a fonte principal para estimular a economia, para que as empresas possam retomar a normalidade e repor os postos de trabalho e/ou, eventualmente, contratar nova mão-de-obra”.
Também Ricardo Evangelista, analista sénior da ActivTrade, lembra que, no geral, não se esperavam alterações significativas. “Houve setores, como o do turismo, que viram o número de empregados crescer, enquanto outros sofreram perdas. Esta dinâmica terá sobretudo a ver com o efeito sazonal da época de férias. Comparando com o mês anterior, o número total de desempregados não variou muito, o que não surpreende, dado que o país continua a sentir os efeitos da crise económica provocada pelo novo coronavírus e a recuperação não acontecerá no curto prazo”, garante ao i.
Em relação ao futuro, garante que existem ainda muitas incertezas e os efeitos da pandemia continuam a ser sentidos, tanto ao nível do investimento das empresas como dos gastos das famílias. E, face a esse cenário, defende que é “normal que a recuperação no mercado laboral, em termos homólogos relativamente ao ano anterior, não esteja para já a ocorrer. Para que tal aconteça, será necessário que a incerteza diminua, em Portugal e no resto do mundo, já que somos uma economia aberta e, portanto, fortemente dependente das exportações e do turismo”.
E Ricardo Evangelista acrescenta que o que vai acontecer nos próximos meses dependerá da evolução da pandemia. “Não podemos esquecer-nos de que a contração económica foi a maior de sempre e afetou todos os setores de forma transversal, o que dificulta uma rápida recuperação. Um novo aumento no número de casos, tanto em Portugal como nos países com quem mantemos relações económicas mais próximas, poderá agravar a situação”.