Depois de dizer que os jogos da final da Liga dos Campeões em Portugal eram “um prémio merecido aos profissionais de saúde”, as palavras do primeiro-ministro voltaram a gerar indignação entre os médicos do Serviço Nacional de Saúde. Depois de ter “segurado” a ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, António Costa lançou esta quarta-feira o aviso: “É fácil ficar no nosso consultório e passar o dia a falar por videoconferência para as televisões, opinando sobre o que acontece aqui e ali”. E ontem, o Sindicato Independente dos Médicos (SIM) deixou também o aviso ao Governo: “Os médicos têm sido quem tem respondido à pandemia, não são os políticos”.
Os motivos para avançar para uma greve são muitos, mas “não é por qualquer tipo de irritação do senhor primeiro-ministro em relação aos médicos que nós vamos fazer uma greve”, explicou Jorge Roque da Cunha, secretário-geral do SIM. “Estamos preocupados com os nossos utentes e não com as greves”, acrescentou.
Os médicos exigem ao Governo mais meios e usam o exemplo que chegou esta semana: foram anunciados mais 15 mil funcionários para os lares, “mas médicos foram zero”. Ainda em relação aos lares, estes profissionais de saúde pedem especial atenção, sobretudo ao Ministério responsável pela Segurança Social. Nesta matéria, o Sindicato Independente dos Médicos já avançou com uma proposta ao Governo: “Aumentar a comparticipação da Segurança Social um euro por dia, por cada utente, de forma a contratar e obrigar os lares a ter um médico e um enfermeiro”, avançou Jorge Roque da Cunha.
A questão dos lares assumiu maiores proporções depois do surto no lar de Reguengos de Monsaraz, onde morreram 18 pessoas. E, neste contexto, a Ordem dos Médicos, em comunicado, lançou também críticas a António Costa. “O primeiro-ministro, ao afirmar que a responsabilidade pelo que aconteceu no Lar da FMIVPS foi dos médicos, errou por ter falado no plural (os médicos). Na verdade, o que o primeiro-ministro queria dizer é que a responsabilidade foi do médico, o médico Dr. José Robalo, presidente do conselho diretivo da ARS do Alentejo”.
Vacinas. Governo autoriza vacinas Em visita ao hospital de Gaia, António Costa anunciou que o Governo já autorizou a encomenda do primeiro lote de vacinas. São 6,9 milhões de vacinas e um investimento de 20 milhões – num programa de aquisição conjunta com a União Europeia. “A União Europeia selecionou seis vacinas que estão em desenvolvimento, as seis em que valia a pena investir e mobilizámos os recursos financeiros para garantir estas vacinas”, anunciou o primeiro-ministro.
A vacina será dada, prometeu António Costa, de uma forma “progressiva, universal e gratuita”.
“Os otimistas acreditam que no final deste ano haverá os primeiros lotes. Os realistas têm de acreditar que os otimistas têm razão, mas temos de nos preparar para que assim possa não ser. Até haver uma imunização geral da população, ou um tratamento para esta doença, temos de estar preparados para o pior para que o melhor se consiga fazer”, acrescentou, apontando que é necessário preparar os próximos meses de outono e inverno – um alerta já dado, aliás, pelos médicos. Depois das palavras de Costa, ficaram a conhecer-se os números do boletim epidemiológico que registou uma ligeira subida relativamente ao número de novos casos de infeção – 291. Na região Norte foram identificadas 93 novas infeções, mas é a região de Lisboa e Vale do Tejo que regista mais casos – ontem foram 170.