O russo Alexei Navalny, o principal opositor de Putin há uma década, foi ontem hospitalizado por suspeitas de envenenamento. O político está em coma e ligado a um ventilador nos cuidados intensivos de um hospital na Sibéria.
“Está em coma, em estado grave”, disse Kira Yarmysh, a sua porta-voz, no Twitter.
A equipa de Navalny não acredita que este envenenamento se trate de um acidente. Vyacheslav Gimadi, advogado da fundação Navalny, disse que a equipa vai solicitar ao Comité de Investigação da Rússia que abra uma investigação criminal. “Não há dúvida de que Navalny foi envenenado por causa da sua postura e atividade política”, escreveu Gimadi no seu Twitter.
Navalny, de 44 anos, sentiu-se mal num voo da cidade siberiana de Tomsk para Moscovo. Depois de perder a consciência, o avião foi obrigado a fazer uma aterragem de emergência em Omsk, na Sibéria.
Segundo a agência de notícias estatal russa Tass, o diretor clínico do hospital indica que Navalny está em estado grave.
Quem é Navalny? Advogado, ativista, blogger e político, foi descrito pelo Wall Street Journal como “o homem que Putin mais teme”, Alexei Navalny nasceu em 1976 nos arredores de Moscovo.
Em 2011 criou a Fundação Anti-Corrupção para investigar a riqueza de Vladimir Putin e do seu círculo próximo, algo que lhe valeu, nos últimos anos, multas e sanções financeiras e inúmeras buscas. No mês passado, a instituição foi encerrada por falta de verbas, depois de um processo que o obrigou a uma indemnização avultada a um empresário próximo do Kremlin.
Está envolvido no mundo político desde 2000, mas foi nas eleições de 2013, quando concorreu para ser Presidente de Moscovo, que se destacou. Apesar de ter sido derrotado, Navalny acusou Sergey Sobyanin, vencedor e também um apontado por Putin, de cometer fraude eleitoral.
Desde então, Navalny tem sido incansável na sua luta contra Putin, liderando centenas de milhares de pessoas em Moscovo e São Petersburgo nos maiores protestos antigovernamentais no país desde o fim da União Soviética, mas claro, sempre com obstáculos pelo caminho.
Foi preso inúmeras vezes. Em 2013, por alegadamente ter organizado o desvio de fundos de uma fábrica de madeira estatal. Em 2014, condenado a passar dez anos num campo de trabalho por ter sido acusado de desvio de fundos de uma filial da Yves Rocher. No mesmo ano, foi condenado a três anos e meio de prisão com pena suspensa pela prática de crimes económicos.
Devido a estas detenções, Navalny está impossibilitado de se candidatar a cargos políticos até 2028.
O ativista foi detido por diversas vezes, por dias ou semanas, durante manifestações. No ano passado, durante uma dessas detenções, foi levado de urgência para um hospital por uma reação alérgica grave que a sua equipa atribuiu a um envenenamento. No dia seguinte teve alta e foi levado de volta para a prisão.
Já dessa vez a sua equipa disse tratar-se de um envenenamento intencional, mas não foi o único ataque de que Navalny foi alvo. Em 2017, foi atacado por um grupo de homens que lhe lançou antissético para a cara, provocando-lhe lesões num olho.
O governo russo já reagiu à notícia e o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, desejou uma “recuperação rápida” ao opositor de Putin. “Sabemos que está em estado grave. Como a qualquer cidadão russo, desejamos-lhe uma recuperação rápida”, disse Peskov aos jornalistas.