Benfica. A águia na terra dos ursos

Coube ao Benfica a primeira conquista portuguesa daTaça dos Campeões Europeus, batendo o Barcelona em Berna por 3-2 – logo seguida pela segunda, vencendo o Real Madrid (5-3). Em sete anos, os encarnados estiveram em cinco finais.

Berna é uma cidade pequena, medieval. Foi, no passado, terra de ursos: bär é a palavra alemã para urso e diz-se que foi o Duque Berthold V de Zähringen que lhe deu o nome depois de aí ter matado um urso. Ainda hoje há ursos perto de Berna: em Nydeggbrücke, na Fossa dos Ursos. Por causa de Berna e dos ursos, no ano seguinte, em Amesterdão, o Benfica seria presenteado com um urso bebé. A mascote seria entregue ao Jardim Zoológico de Lisboa. Mas não nos adiantemos…

Foi no Wankdorf Stadium que a Alemanha bateu a invencível Hungria (3-2) na final do Campeonato do Mundo de 1954. Um estádio fadado para surpresas.

O Benfica parecia condenado a ser o sparring partner do Barcelona que deixara pelo caminho o RealMadrid das cinco Taças dos Campeões consecutivas em nova final no Wankdorf. Desde aquele dia em final de Setembro no qual batera o Hearts, em Edimburgo, por 2-1, somara seis vitórias, um empate e uma derrota, vinte e três golos marcados e oito sofridos. Impressionante. Ah! Mas o Barça… 

Dia 31 de março de 1961. No Tribune de Lausanne escreveu-se: «Nada poderia derrotar o Benfica. Mesmo que houvesse um penálti, marcado por Kubala, certamente um passarinho voaria sobre a área dos portugueses e levaria a bola, afastando-a da baliza…» Kubala, Suarez, Evaristo, Kocsis e Czibor. Provavelmente a melhor linha avançada do Mundo. Foi de Kocsis o primeiro golo do jogo, marcado ao minuto 20. O Benfica tremeu por momentos. Czibor e Evaristo estiveram à beira do 2-0. Mas, dez minutos depois, um lance de Cavém e um erro do guarda-redes Ramallets deixam a bola à mercê de José Águas sobre a linha de golo: 1-1. Mais dois minutos e Vergés, de cabeça, desvia um centro de Neto para dentro da sua própria baliza: a bola bate no poste, Ramallets ainda a desvia com as mãos, mas o árbitro Gottfried Dienst não tem dúvidas: 2-1. 
O Barcelona força. Lança-se em desespero sobre a área de Costa Pereira. Os minutos finais da primeira parte e os primeiros dez minutos da segunda são terríveis para a defesa do Benfica.

Ao minuto 55, Coluna, a uns trinta metros da baliza, acorre a uma bola que pinga na sua frente e dispara com potência junto ao poste esquerdo de Ramallets: 3-1. Atordoados, os catalães demoram a reagir. Mas a sua revolta é tremenda. Marcam o segundo golo a quinze minutos do final do jogo, por Czibor. E é então que a palavra sorte entra no dicionário dos grandes momentos da história do Benfica: Kubala remata, a bola embate no poste direito de Costa Pereira, rola sobre a linha de golo, bate no poste esquerdo e lança-se nos braços do guarda-redes encarnado; Czibor chuta à trave; Czibor, isolado, tem um pontapé fortíssimo mas à figura de Costa Pereira. Três lances que os culés do Barça nunca esquecerão. Muitos anos depois, em conversa com Mário Coluna, ele quase se irritou com a palavra sorte: «Sorte? Porquê sorte? O poste estava lá e, que eu saiba, no poste não é golo. 

 

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