Campeões. Tempestade Branca!!!

Nunca houve uma final assim e muito provavelmente nunca haverá. No dia 18 de maio de 1960, em Glasgow, o Real Madrid bateu o Eintracht por 7-3!

O exagero tomou conta da final da Taça dos Campeões de 1960. A começar pela assistência do Hampden Park, em Glasgow, que atingiu os 127.621 espetadores pagantes, sendo de imaginar que muitos outros entraram à má-fila ou com convites amáveis por parte da UEFA e dos dois clubes em confronto, o Real Madrid e oEintracht Frankfurt. Três anos antes, no Santiago Bernabéu, no Real Madrid-Fiorentina (2-0), o cálculo total foi de 124 mil adeptos. O recorde estava batido e assim ficou até hoje.

Quem pagou o bilhete não deu mal perdido o seu dinheiro. O encontro também bateu o recorde de prodigalidade de golos: 7-3 a favor dos madrilenos. Com essa vitória conquistavam a sua quinta Taça dos Campeões Europeus consecutiva (mais um recorde). Voltariam a ganhar em 1966, frente ao Partizan de Belgrado (2-1) e ficariam numa seca desesperante até 1997-98 quando, em Amesterdão, bateram a Juventus por 1-0 e somaram a sétima. Se alguém, nessa noite, não parecia muito dado a esbanjamentos, apesar da vitória inimitável, era o próprio presidente do Real, Santiago Bernabéu. O uruguaio José Emilio Santamaría Iglesias, mais conhecido por Pepe Santamaría, que passou onze épocas seguidas no clube, relembrou muito mais tarde num documentário feito pela BBC em redor desse encontro: "Estávamos todos sentados na entrada de um hotel, próximo do aeroporto, à espera de regressarmos a casa. Não havia euforia nenhuma, pelo contrário. Toda a gente em silêncio. Se alguma voz se levantava, Bernabéu soltava um ‘chut!’ e voltávamos a ficar calados. Deram-nos sumo de laranja e uns biscoitos. Nada mais".

Santiago Bernabéu podia ser forreta numas coisas, mas não o foi na criação da melhor equipa do mundo desse tempo que contava com estrelas de máxima grandeza que coubessem no sistema de Hiparco. Em Glasgow, no dia 18 de maio de 1960, o Real Madrid contava com o guarda-redes argentino Rogelio Antonio Domínguez López, considerado o melhor da América Latina, com os defesas Marcos Alonso Imaz, que era tratado por Marquitos, um fulano brincalhão que, no dia seguinte, se apresentou nos festejos da Puerta del Sol vestido com um kilt, Enrique Pérez Díaz, conhecido por Pachín, e Santamaría, que viria a naturalizar-se espanhol; no meio-campo instalava-se José María Zárraga Martín, o capitão nessa final, e JoséMaría Vidal; na frente o brilho era intenso como um sol: FranciscoGento Lopéz, La Galerna del Cantábrico, ou AVentania Cantábrica, único vencedor de seis Taças dos Campeões, o húngaroFerenc Puskás, o Major Galopante, Luis del Sol Cascajares, que custara a bagatela de 6 milhões de pesetas nesse mesmo ano, vindo do Bétis, o prodigioso argentino Alfredo Di Stéfano e o brasileiro Darcy Silveira dosSantos, o Canário, que acabaria por falhar em Madrid e só triunfaria mais tarde noMaiorca e no Saragoça. Uma força demasiado devastadora para um Eintracht Frankfurt que, pela primeira vez, se via metido em tais assados, mas que registava orgulhosamente o facto de ser a primeira equipa não-latina a atingir a final dos Campeões e desfizera, nas meias-finais, o sonho do Rangers jogar em casa de uma forma convincente: 6-1 e 6-3!

 

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