Biden: luz e trevas na luta com Trump

Na noite que encerrou a convenção democrata, ficou claro que nunca como dantes os democratas encararam umas eleições como uma guerra pela alma da América.

Não houve grandes surpresas na quarta e última noite da convenção democrata nos EUA. Joe Biden aceitou a nomeação presidencial do seu partido num discurso em que prometeu ser um "aliado da luz e não das trevas", e o líder democrata, que foi vice de Barack Obama durante dois mandatos na Casa Branca, desfez Donald Trump e o seu primeiro mandato, seguindo a pista de Obama, que no seu discurso tinha lembrado que estas eleições não vão apenas definir o curso para os próximos quatro anos, mas irão determinar o futuro para as gerações seguintes. Depois de vários dos discursos da noite terem tentado mostrar o lado mais empático e generoso de Biden, o candidato à Casa Branca mostrou-se confiante de que é ele quem oferece melhores condições não só para travar a crise de saúde provocada pela pandemia e agravada pela deficiente resposta da atual administração, como para reverter o desastre económico que se lhe sobrepôs, numa altura em que, contrariando a ideologia republicana, Trump fez explodir a dívida pública.

Biden vincou ainda que o país atravessa uma verdadeira crise de identidade, devido a uma retórica incendiária e divisiva por parte do Presidente, que tem alimentado as tensões raciais e outras. Para guiar o descontentamento relacionado com a injustiça económica no país, no seu entender, é preciso alguém que saiba "puxar pelo que há de melhor em nós, e não pelo que há de pior". Além deste discurso que viu culminar os quatro dias de uma convenção atípica, devido à pandemia, tendo aproveitado sobretudo a dinâmica das redes sociais para difundir os vídeos dos discursos, além de testemunhos por parte da família do ex-vice presidente, houve outros candidatos às primárias democratas que deram o seu apoio a Biden, reforçando a mensagem de que é preciso unir um país que está já num quadro de guerra civil do ponto de vista da sua forma de encarar a própria realidade.

Dois dos discursos mais marcantes da noite foram o do antigo mayor de Nova Iorque Mike Bloomberg, que nem teve necessidade de polir os seus galões como magnata de um império financeiro, com uma fortuna de vários milhares de milhões. Bloomberg notou que se o país fosse uma empresa ninguém no seu perfeito juízo pensaria em renovar o contrato com um CEO que tivesse feito uma gestão tão ruinosa como aquela que fez Trump no seu primeiro mandato na Casa Branca. "Quando foi confrontado com a maior calamidade que qualquer Presidente já enfrentou, Donald Trump passou a melhor parte de um ano a minimizar a ameaça, a ignorar a ciência e a recomendar curas próprias de charlatães, o que permitiu que o Covid-19 se espalhasse muito mais depressa do que devia ter acontecido, fazendo centenas de milhares de doentes e vítimas mortais desnecessárias. Ele falhou catastroficamente com o povo americano", rematou Bloomberg.