Já não há sinais de vida nos escombros de Beirute

Equipas de resgate vasculharam o bairro de Mar Mikhael, esperançosas, mais de um mês depois da explosão que o devastou. Tinham encontrado sinais do bater de um coração, que ontem desapareceu.

O milagre pelo qual esperavam tantos habitantes de Beirute parece cada vez mais impossível. Para os cerca de 50 elementos da equipa de resgate, de que fazem parte os especialistas da Topos Chile, cujos scanners térmicos e cães detetaram um pequeno corpo e o bater de um coração nos escombros de Mar Mikhael, na quinta-feira, já há pouca esperança. "Infelizmente, hoje podemos dizer que, tecnicamente, não há sinais de vida dentro do edifício", lamentou este sábado Francesco Lermanda, que lidera a Topos Chile.

"Verificámos 95% do edifício", assegurou Lermanda, cuja equipa participou no resgate de 33 mineiros chilenos, que ficaram presos, mais de 700 metros debaixo da superfície, durante 68 dias, em 2010. Momentos antes da conferência de imprensa de Lermanda, dois membros da sua equipa tinham gatinhado por um túnel até à última bolsa de ar debaixo dos escombros, mas não encontraram ninguém. "Nunca pararemos, mesmo com 1% de esperança", prometeu. "Nunca pararemos até o trabalho estar feito". 

Para os muitos libaneses que se tinham juntado para assistir aos trabalhos de resgate, foi mais uma tremenda desilusão. Ainda esta sexta-feira, o país, que já enfrentava uma pandemia e uma brutal crise económica, fez um minuto de silêncio pelos cerca de 190 mortos na gigantesca explosão no porto de Beirute, causada por toneladas de nitrato de amónio, que deixou para trás mais de seis mil feridos e devastou bairros inteiros.

Para muitos, a lentidão dos trabalhos de resgate em Mar Mikhael foi mais um motivo para estarem furiosos. "O edifício está mesmo a colapsar, é a assustador e há muito perigo para a equipa, explicou Abou Moussa, diretor de operações da proteção civil libanesa, citado pelo Guardian.