Na segunda sessão do julgamento do pirata informático Rui Pinto – acusado de 90 crimes –, o Ministério Público (MP) solicitou ontem que fossem divulgados e exibidos os conteúdos originais dos dispositivos informáticos apreendidos ao hacker, criador do Football Leaks. Para tal, a presidente do coletivo de juízes, Margarida Alves, deu um prazo de cinco dias para que os assistentes no processo se pronunciem.
Mas esta segunda sessão, que decorreu no Tribunal Central Criminal de Lisboa, no Campus de Justiça, teve como maior foco as declarações do advogado Aníbal Pinto, arguido pelo crime de tentativa de extorsão à Doyen. Ouvido em tribunal, garantiu que quem teve a ideia de criar uma offshore para um contrato com o fundo de investimento Doyen foi o seu antigo cliente, Rui Pinto. “Quando os advogados se apercebem de que pode haver alguma coisa ilegal, que foi o que eu me apercebi, têm de fazer aquilo que o estatuto da Ordem dos Advogados e a lei lhes impõe, que é afastarem-se. Foi o que fiz”, sublinhou, confessando ter a certeza de que o hacker não lhe contou tudo e que tem “orgulho” na forma como desempenha o seu papel de advogado.
“Os advogados não têm de achar que é normal ou que não é normal, têm de saber se é legal ou se não é legal. O que é legal tem o apoio dos advogados; o que não for legal não tem”, rematou Aníbal Pinto, considerando “uma opção do cliente” a intenção de Rui Pinto de receber o pagamento da Doyen numa offshore. “Eu não estava mandatado para o aconselhar”, concluiu, à saída do tribunal.
O julgamento é retomado hoje, a partir das 9h30, novamente no Campus de Justiça, em Lisboa. Rui_Pinto, recorde-se, é acusado de 68 crimes de acesso indevido, 14 de violação de correspondência, seis de acesso ilegítimo – visando entidades como o Sporting, a Doyen, a sociedade de advogados PLMJ, a Federação Portuguesa de Futebol e a Procuradoria-Geral da República – e ainda um por sabotagem informática à SAD do Sporting e outro por extorsão, na forma tentada.