Ainda não foi desta que o secretário-geral do PCP esclareceu se vai continuar, ou sair, da liderança do partido no próximo congresso, marcado para novembro. No final de dois dias de reunião do comité central dos comunistas, Jerónimo de Sousa, começou por dizer: “Não antecipemos as coisas”. Mas acabou por dar conselhos sobre como analisar as várias hipóteses.
Para o efeito, citou uma notícia do Expresso de há dois meses onde se lia que Jerónimo de Sousa pode “sair, ficar ou ficar mais um bocadinho”. Assim, Jerónimo de Sousa aconselhou: “O melhor é jogar de facto na tripla tendo em conta que existe essa dinâmica que está longe de ter terminado”. Dito de outra forma: a discussão interna mal começou. Há quem admita, seguindo o histórico do PCP, nos tempos de Álvaro Cunhal, que o nome de João Ferreira, candidato presidencial, pode ser uma das soluções. Mas, neste quadro, Jerónimo ficaria à frente dos destinos dos comunistas por mais algum e seria novamente consagrado no próximo congresso com a tarefa de secretário-geral (podendo ou não completar o mandato). Mas, nesta fase nada está decidido, nem sequer ponderado. Jerónimo só garantiu aos jornalistas que está “fisicamente bem” para desempenhar o papel que o partido lhe entenda dar a partir de novembro.
No quadro das decisões do comité central, onde foram aprovadas as teses-projecto de resolução política para o partido debater internamente até ao congresso, ficou claro o grau de exigência com o PS. “O que se exige é que se assuma uma viragem nas opções, critérios e prioridades que condicionam, e em larga medida impedem o desenvolvimento do País, a começar pelo Orçamento do Estado para 2021”, lê-se no comunicado do PCP.
Para os comunistas “o que a atual situação reclama não são meras declarações de aparente distanciamento do PS ao PSD, se as opções que o PS vier a adotar forem, no essencial, aquelas que o PSD assumiria”. Neste ponto, o PCP defende, por exemplo, “a recuperação pelo Estado do controlo público do Novo Banco e a sua integração no setor público financeiro”.
Para o PCP “como a vida comprova a solução para os problemas nacionais e a resposta aos interesses dos trabalhadores e do povo, não se encontra nem nas opções do Governo PS, nem com os projetos reacionários que PSD, CDS e os partidos seus sucedâneos – Iniciativa Liberal e Chega – a que é preciso dar combate”. E, por fim, o comité central do PCP voltou a deixar um aviso aos socialistas, caso ameacem com um cenário de crise política numa altura particularmente difícil para o país. “Não será com ameaças de crise política como as que assistimos, nem com calculismos eleitorais de curto ou médio prazo ou com estratégias reacionárias de capitalização demagógica de problemas reais e, muito menos, com o lançamento do medo para condicionar a vida, a ação e a luta, que se responde aos problemas nacionais que aí estão”, pode ler-se no comunicado do PCP.