O nome de Pedro Passos Coelho ressurgiu com maior insistência nas últimas duas semanas no PSD. Não está em causa qualquer assalto ao poder, mas há quem alimente a ideia de que o antigo primeiro-ministro poderá regressar num futuro próximo à liderança do PSD. Quando? Talvez após as autárquicas de 2021, talvez após as legislativas, previstas para 2023, talvez até mais à frente. O próprio remete-se ao silêncio sobre a vida política, apesar de ter subscrito um abaixo-assinado pela objeção de consciência nas aulas de Cidadania, ao lado de figuras como Cavaco Silva e D. Manuel Clemente ou José Ribeiro e Castro. Ainda assim, não pode ler-se nesta participação um sinal de regresso. «Está atento», avisa Carlos Abreu Amorim, ex-deputado do PSD e crítico de Rui Rio.
No PSD, o tema mereceu algumas conversas de bastidores, mas sem qualquer movimentação nas estruturas. Apesar de não ter qualquer consequência interna no partido, a leitura de alguns sociais-democratas ouvidos pelo SOL é a de que tudo o que Passos Coelho faça merece atenção dentro do PSD. É uma reserva do partido, como descreve ao SOL o antigo líder do PSD Rui Machete: «Obviamente, o Dr. Pedro Passos Coelho tem uma vocação política e uma carreira política em que já evidenciou as suas qualidades e que continua, portanto, a ter essas potencialidades. E está, de resto, como se tem visto, atento à evolução política portuguesa. O que não quer dizer que, neste momento, pretenda tomar uma opção política ativa e imediata. A não ser que as coisas se alterem de uma maneira muito grande. Mas, não creio que ele esteja disposto a candidatar-se a alguma posição política ativa nos tempos mais próximos», vaticinou Rui Machete.
Para o ex-ministro e antigo dirigente do PSD, Passos Coelho «é um homem que tem capacidade política inegável e continua a interessar-se pela política e, poderá, eventualmente um dia intervir, quer como primeiro-ministro, quer como candidato eventual à Presidência da República». Ou seja, « [É] Uma figura de reserva. É exatamente isso que eu penso. É um valor que há que ter em consideração».
Já para Carlos Abreu Amorim, há uma leitura clara sobre o papel de Passos Coelho: «Nesta crise de identidade do espaço não socialista, a única pessoa com condições para ultrapassar isto num curto espaço de tempo é Pedro Passos Coelho. Agora, uma coisa é a análise que eu possa fazer, outra coisa é o seu próprio desejo. Ou seja, eu não faço a ideia se o Dr. Pedro Passos Coelho deseja voltar, ou se deseja voltar num espaço breve ou médio. Isso é uma questão completamente diferente. Agora, reafirmo que não vejo ninguém, absolutamente ninguém, no horizonte, que tenha capacidade para federar, para agregar, para motivar, para estimular o espaço não socialista», declarou ao SOL o ex-deputado social-democrata.
Tanto Rui Machete como Carlos Abreu Amorim estão afastados da política ativa. Ao contrário de Paulo Cunha, autarca de Famalicão e presidente da distrital de Braga. O dirigente repete o que já tinha dito ao Público sobre um eventual regresso de Passos Coelho: «Acho que é extemporâneo colocar a questão neste momento. O que eu disse e repito é que Passos Coelho faz falta ao país. É inegável que o seu modelo reformista, e a forma responsável que imprimiu à governação trazem grandes vantagens para os portugueses (…) incomparáveis com esta governação socialista. Que é uma governação de gestão. O PS governa à vista senão à deriva. O país precisa de alguém que saiba ter uma perspetiva de longo prazo».
Quanto à hipótese de Passos ser o nome que pode federar a direita ou o espaço não socialista, essa é uma «questão flutuante». Para Paulo Cunha, «o espetro partidário hoje é diferente do que era há cinco anos. E daqui por cinco anos também será diferente. Não me parece que seja a questão a colocar neste momento».
De facto, no PSD ninguém faz prognósticos sobre um regresso do antigo líder. Primeiro, porque o próprio não tem dado sinais de que o pretende fazer; segundo, porque a prestação eleitoral de Rui Rio é uma incógnita. E as autárquicas podem-lhe correr bem, com o desgaste do Governo. Os péssimos resultados do PSD nas autárquicas de 2017 também permitem a Rui Rio fazer melhor. Além disso, a estabilidade da atual legislatura não está garantida. Seja porque as negociações à esquerda serão sempre mais difíceis a partir daqui, seja porque a situação do país pode ampliar ( e muito) as dificuldades de um Executivo que até março (antes da pandemia) geriu as contas da Nação sem sobressaltos. Ou seja, as incertezas são várias e o PSD até pode ser chamado a governar antes do previsto. Nesse caso, Rui Rio poderia vir a ser primeiro-ministro.
Certo é que há quem não esconda que gostaria de ver Passos Coelho a gerir o PSD ou até o país. E só há uma certeza: «[Passos Coelho]Não é pessoa a andar a fingir ou a disfarçar dizendo uma coisa e andando a fazer outra. Se um dia quiser voltar não deixará dúvidas a ninguém nem ambiguidades no ar», advogou Carlos Abreu Amorim.
Entretanto, a bancada do PSD foi a votos esta semana com uma lista única, liderada por Adão Silva. Que venceu com mais de 80 por cento dos votos num registo de continuidade de Rui Rio. Até aqui nada de novo. Os problemas, contudo, surgiram na hora de votar. Alguns deputados sentiram-se incomodados com as condições de voto, sendo filmados e fotografados ou queixando-se de não terem a privacidade necessária para exercerem o seu direito. Pedro Pinto, que chegou a anunciar uma candidatura à liderança da bancada (e desistiu), pediu mesmo para não ser filmado ou fotografado. Mais, equacionou impugnar o ato eleitoral. Mas, segundo apurou o SOL já não estará inclinado a fazê-lo. Ouviu juristas sobre potenciais irregularidades em relação às condições de votação na bancada. Porém, o que travou foi o facto de só haver uma lista. E, neste caso, numa leitura jurídica, um voto só serviria para eleger Adão Silva. Ou seja, a impugnação não teria efeitos práticos. E o assunto parece estar arrumado.