As jornadas parlamentares do PS abriram com um apelo à esquerda para um compromisso no Orçamento do Estado para 2021. António Costa focou-se no programa de recuperação, mas o secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, Duarte Cordeiro, alertou que os portugueses não compreenderiam que a esquerda não se entendesse numa altura em que o país atravessa um “momento muito difícil” por causa da pandemia.
“Este Orçamento exige da esquerda um compromisso político que permita encontrar pontos de convergência num momento particularmente difícil para o nosso país. Os portugueses esperam que tenhamos essa capacidade de entendimento e isso exige que cada partido se aproxime, procure convergências, seja exigente, mas que mostre essa disponibilidade de que o país precisa”.
Duarte Cordeiro garantiu que o Governo está disponível para uma “aproximação” às propostas do BE e do PCP e avisou que é preciso evitar “desentendimentos que seriam pouco compreendidos pelos portugueses”. O governante voltou a alertar que o país não está em condições para “somar uma crise política a uma crise económica e social”.
Numa altura em que o Governo está a negociar o orçamento para o próximo ano com os partidos de esquerda, o secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares alertou várias vezes que o país está a atravessar “um momento muito difícil” e que o Governo fará um esforço” para corresponder às expectativas dos bloquistas e do PCP.
A preservação do emprego e dos rendimentos, o combate à precariedade, a valorização dos serviços públicos, o investimento no Serviço Nacional de Saúde são algumas das áreas em que o Governo acredita que pode corresponder às exigências da esquerda para aprovar o orçamento.
O primeiro-ministro já tinha avisado, numa entrevista ao Expresso, que sem acordo com a esquerda haverá uma crise política. Na abertura das jornadas parlamentares, no centro Cultural de Belém, em Lisboa, António Costa focou-se no Plano de Recuperação e Resiliência que envolve os fundos comunitários para responder à pandemia. António Costa defendeu que este não é o tempo para hesitações, porque o país não pode perder tempo para enfrentar a crise provocada pela pandemia. “Se, nos próximos dez anos, fizermos aquilo que foi feito nos últimos 50 anos a propósito do aeroporto de Lisboa, então daqui a dez chegaremos ao fim com muito dinheiro gasto em estudos, mas sem se fazer nada de efetivamente concreto que altere a realidade do país”.
O primeiro-ministro lembrou que este programa é um “contrato” que o país vai fazer com a União Europeia com calendários e metas para cumprir. “Daqui a seis anos estarão cá a pedir-nos contas do que é que fizemos com estes recursos extraordinários que foram postos à nossa disposição”, disse Costa, alertando que “a crise está aí, são milhares de empresas que estão ameaçadas de poder fechar, são milhares de postos de trabalho que já foram perdidos ou que estão ameaçados e assiste-se a uma perda de rendimentos no conjunto da sociedade que pode vir a atingir as famílias”.
Costa quer que este plano responda às “vulnerabilidades sociais”, nomeadamente à necessidade de reforçar o Serviço Nacional de Saúde, reforçar as políticas de habitação e apoiar os mais velhos. Outra das prioridades é aumentar a produtividade com uma aposta nas qualificações e na inovação. O primeiro-ministro vai estar hoje no Parlamento para um debate sobre a “visão estratégica para o plano de recuperação económica de Portugal 2020-2030”. O debate foi solicitado pelo Governo.