Fernando Pimenta. O canoísta que deslizou 100 vezes até aos pódios internacionais

O atleta de Ponte de Lima soma 15 anos de sucessos a nível internacional. Na Taça do Mundo de velocidade de canoagem, única prova da modalidade em 2020, conquistou mais três medalhas – tendo alcançado a centésima da carreira. Conquistar o ouro em Tóquio 2020 é meta primordial.

Pimenta na água é quase sempre sinónimo de medalhas. Fernando Pimenta é o rosto principal da canoagem em Portugal e no último fim de semana atingiu nova marca histórica: alcançou os 100 pódios internacionais na sua carreira. O feito foi registado na Taça do Mundo de velocidade, na única prova internacional da modalidade prevista para 2020. Em Szeged, na Hungria, o canoísta de Ponte de Lima conquistou três medalhas e fechou a prova com chave de ouro, com o lugar mais alto do pódio a carimbar a medalha número 100. O limiano de 31 anos venceu nos K1 5000 metros, superando os atletas da casa, os húngaros Balint Noe, segundo classificado, e Kornel Beke, que fechou o pódio. O atleta português cortou a meta ao fim de 20 minutos 03,89 segundos e sagrou-se novamente vencedor, depois de já ter sido bicampeão mundial na mesma distância em 2017 e 2018 e medalha de bronze nos Mundiais de 2019, precisamente na mesma cidade húngara. Ainda antes, o canoísta que integra o projeto olímpico do Benfica já tinha levado a bandeira portuguesa até ao pódio noutras duas ocasiões: conquistou também a medalha de ouro em K1 1000 metros e a medalha de prata em 500 metros. O canoísta limiano venceu os 1000 metros em 3.26,48 minutos, superando por 24 centésimos de segundo o húngaro Balint Kopasz, campeão do mundo em título. Já nos 500 metros, foi Kopasz a levar a melhor, com um tempo de 1.36,47 minutos, cerca de dois segundos mais rápido do que o português. 

O melhor canoísta português de todos os tempos chega ao registo impressionante de 100 medalhas internacionais 15 anos depois de ter alcançado o primeiro pódio, em 2005: curiosamente, este percurso dourado também começou com uma medalha de ouro, alcançada no Festival Olímpico da Juventude Europeia (Itália) em K4 500 metros. Desde então que a jornada do atleta tem sido feita de sucessos, tendo ficado apenas em branco em duas temporadas, nos anos de 2006 e 2008. Em 2019, Pimenta protagonizou o ano mais vitorioso da carreira a nível internacional, com 19 medalhas conquistadas. Entre as 100 medalhas internacionais, destaque para a prata nos Jogos de Londres 2012 em K2 1000 metros, em parceria com Emanuel Silva. Pimenta soma ainda dez medalhas em Mundiais, 16 em Europeus, duas em Universíadas e quatro em Jogos Europeus. Num ano marcado pelo adiamento dos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020 devido à pandemia de covid-19, Pimenta traça como principal objetivo da carreira conquistar o ouro precisamente nos Jogos Olímpicos. E não fosse o limiano o CR7 da canoagem, eis que o canoísta usou mesmo o exemplo do internacional português como bússola da sua meta: «Estou quase a igualar o Cristiano Ronaldo em termos de golos pela seleção nacional. Fica já esse recado, que vou tentar ter mais medalhas do que ele golos [Ronaldo conta atualmente com 101 golos]», contou em entrevista à Rádio Renascença. 
Há três anos, em entrevista ao jornal i, o limiano revelou grande parte do processo que culmina depois nas vitórias históricas. As duras rotinas de treino e as privações integram o dia-a-dia do atleta que descobriu a canoagem aos 11 anos.

«Acordo, tomo um bom pequeno-almoço, preparo as coisas para o treino e logo de manhã faço duas sessões. Depois descanso, almoço, e à tarde volto ao treino e faço mais uma ou duas sessões dependendo da época. Finalmente janto e vou recuperar para o dia seguinte», resumiu, lembrando que descobriu a modalidade «nas férias desportivas do Clube Náutico de Ponte de Lima». «Fazemos um treino no rio que é complementado com treino de cardio, corrida, bicicleta e natação», detalhou. Com três treinos diários «e em alguns dias quatro», no inverno as rotinas mantêm-se igualmente exigentes: «quer estejam 0 ou 2 graus temos de ir para o rio e tentar superar essa adversidade», contou. 
Apesar dos vários sucessos, Pimenta não esquece o momento mais duro da sua vida desportiva, quando falhou as medalhas nos Jogos Olímpicos do Rio 2016. Após a desilusão na prova, o canoísta admitiu que deixou de ter vontade de treinar. Recorda-se das críticas, em grande parte dos casos de pessoas que não «fazem ideia da realidade». 
Por enquanto, o veterano promete continuar com uma grande ambição de querer mais e melhor para a canoagem e para o desporto português. E apesar da exigência característica da alta competição, arrumar a pagaia só será opção para o atleta quando o corpo decidir. 

Fernando Pimenta continua a ter na família o principal pilar – agora, a pouco tempo de ser pai pela primeira vez, o atleta diz ter conquistado «motivação extra» para os próximos desafios. Com o sentimento de dever cumprido após ter aproveitado da melhor forma a única competição internacional do ano, numa época em que dominou a incerteza, o português goza agora e um período de férias, antes de regressar para planear a temporada 2021, que ganhou destaque com Tóquio 2020. «Foi difícil por ser uma época atípica, mais longa. Foi mais duro em termos psicológicos», disse Pimenta, à chegada a Portugal.