A economia portuguesa deve recuar 8,1% este ano por causa da pandemia. Os números foram avançados pelo Banco de Portugal (BdP) que, ainda assim, reviu em alta as projeções de junho, que foram fixadas em 9,5%. «A projeção agora apresentada revê 1,4 pontos percentuais em alta a previsão de junho, reflexo de um impacto mais reduzido do confinamento na economia portuguesa e de uma reação das empresas e famílias melhor do que a antecipada», diz a entidade liderada por Mário Centeno.
Menos otimistas estão os economistas do Núcleo de Estudos da Universidade Católica (NECEP), que mantêm como cenário central, para o conjunto do ano, uma queda de 10% do Produto Interno Bruto (PIB), com um intervalo de queda entre -9% e -12%. «É pouco provável uma queda do produto limitada aos 6,9% inscritos pelo Governo no Orçamento Suplementar 2020 ou de 8,1% como avançou recentemente o Banco de Portugal», explicam. No seu entender, essa previsão «parece difícil de conciliar com os dados desde meados de setembro que sugerem a degradação da conjuntura nacional e europeia».
Recorde-se que, em junho, o Banco de Portugal previa uma recessão económica de 9,5% em 2020 devido à pandemia, muito para lá dos 5,7% projetados no anterior cenário adverso, com recuperações de 5,2% em 2021 e 3,8% em 2022. No entanto, o Banco de Portugal explica esta recuperação na segunda metade do ano: «Resulta da manutenção de restrições à atividade em alguns setores, do clima de incerteza e dos impactos na capacidade produtiva».
Além disso, o supervisor alerta que a «heterogeneidade setorial manter-se-á na fase da recuperação», sendo que o turismo e os serviços mais expostos a contactos pessoais serão os que vão recuperar mais lentamente.
O consumo público deverá crescer 1,2% em 2020, segundo o BdP. «O consumo privado cairá 6,2%, observando-se um forte aumento da taxa de poupança no primeiro semestre que será gradualmente revertido na segunda metade do ano».
Face a este cenário, o banco central acredita num défice orçamental de 7% do Produto Interno Bruto (PIB) este ano. «Apesar da incerteza relativa aos desenvolvimentos orçamentais, o objetivo de défice orçamental para 2020 de 7,0% do PIB afigura-se alcançável», refere.
Exportações em baixa e desemprego sobe
A entidade liderada por Mário Centeno prevê ainda uma queda das exportações de bens e serviços de 19,5% em 2020, enquanto as importações de bens e serviços deverão diminuir 12,4%. «As perspetivas de curto prazo para a economia portuguesa continuam rodeadas de incerteza. A recuperação na segunda metade do ano constitui uma mais rápida e marcada inversão do ciclo do que a observada nos anteriores episódios recessivos. No entanto, não é de excluir que o prolongamento da crise pandémica cause uma retração na recuperação da despesa e da oferta. As políticas económicas nacionais e supranacionais continuarão a exercer um papel fundamental no processo de recuperação sustentável», alerta o BdP.
O Boletim Económico diz também que, devido à contração da atividade decorrente da pandemia, haverá um aumento da taxa de desemprego para 7,5% em termos médios anuais, face aos 6,5% em 2019, valor que representa uma revisão em baixa face à divulgada em junho. «A especificidade da crise pandémica implicou uma diminuição da taxa de desemprego no primeiro semestre de 2020, num quadro de uma redução significativa da população ativa. Com a normalização gradual das circunstâncias associadas à pandemia, projeta-se um aumento da taxa de desemprego e da população ativa na segunda metade do ano», refere.
Já os economistas da Universidade Católica admitem que a taxa de desemprego terá passado de 5,6% no segundo trimestre para 7,8%, justificando o aumento com a «reaproximação ao mercado de trabalho dos inativos que ficaram sem trabalho durante o período do confinamento, para além dos demais indivíduos em situação de desemprego como resultado da recessão já instalada no país». Este ano a taxa de desemprego deverá fixar-se em 7,4%.
Os economistas consideram ainda «muito preocupantes» os indicadores relacionados com as exportações, sobretudo da atividade do turismo, que «parece estar a menos de metade do que é normal para esta época do ano, quer em número de dormidas, quer na receita gerada na forma de exportações». E estimam que as fortes restrições impostas às deslocações de pessoas, desde logo de turistas britânicos, podem ter levado a uma queda das exportações no terceiro trimestre de mais de 30% em termos homólogos.