Recordes de novos casos diários e um aumento também mais acelerado dos doentes internados nos hospitais com covid-19. O cenário de agravamento da epidemia acentuou-se durante esta semana e foi reconhecido pelo Governo, que nos últimos dias se multiplicou em entrevistas, garantindo medidas e que existe capacidade no SNS. Subiu no entanto o tom de preocupação com a trajetória da epidemia, cujo crescimento na semana passada ainda era apontado como de alguma estabilidade pela DGS. Evitar um novo confinamento continua a ser o objetivo mas a incerteza da evolução da pandemia passou a dominar as intervenções. “Se posso jurar a pés juntos que não serão dados passos dramáticos? Não posso. É uma questão de bom senso. Mas temos de o evitar”, afirmou o primeiro-ministro. “Não sabemos o que nos espera”, disse também a ministra da Saúde, não excluindo para já medidas setoriais mais gravosas em função da situação epidemiológica.
António Costa, em entrevista ao Público, justificou as medidas anunciadas esta semana com a necessidade de abanar a população. “Senti que era preciso haver uma abanão na sociedade”, disse António Costa. “O tempo foi passando, as pessoas foram ficando saturadas, foram-se habituando ao risco ou desvalorizando o risco porque a faixa etária foi mudando”. O alerta mais veemente do primeiro-ministro surgiu no dia em que foram ultrapassados os 2000 casos diários, mais cedo que o esperado. Esta sexta-feira e sábado são expectáveis números mais elevados e, mesmo com as novas medidas, a previsão é que o número de casos reportados continue a aumentar.
Segundo o i apurou, não se antecipa que as medidas instituídas invertam essa tendência, podendo no entanto abrandar o aumento de contágios, o que só se repercutirá no número de casos diagnosticados e de doentes a procurar cuidados de saúde e a precisar de inquéritos epidemiológicos dentro de uma a duas semanas. A pressão vai assim a aumentar para um patamar sem precedentes em termos de resposta de saúde pública, onde os meios disponíveis preocupam as equipas, não havendo projeções a esta altura que permitam perceber com clareza quando será o pico de novos casos. Há contudo uma ideia com base no que aconteceu na primeira onda: o pico de internamentos deverá acontecer quatro semanas após a ultrapassagem do pico de novos casos, o que tem em conta a duração média de internamentos.
As preocupações vêm também do terreno. “Não estamos a conseguir rastrear todos os contactos”, disse já esta semana o médico Gustavo Tato Borges do ACES do Grande Porto Santo Tirso/Trofa, em declarações ao DN, admitindo que existe transmissão comunitária ativa por controlar na região – uma situação que o país tinha conseguido controlar no verão. Na primeira onda, foi quando isto começou a ser preponderante que se entrou em confinamento e foi por exemplo o que levou à cerca sanitária em Ovar, cenário que até aqui não foi apontado para nenhum concelho.
Nos hospitais, é previsível que se passe o patamar dos mil doentes internados nos próximos dias e, a este ritmo de crescimento de novos casos, o pico de internamentos registados em abril (1302 doentes internados) poderá ser ultrapassado dentro de duas semanas ou mesmo na próxima. Os hospitais de retaguarda em Lisboa e no Porto já estão a ser preparados, adiantou também ao Público o primeiro-ministro. A instalação de hospitais de retaguarda nas áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto estava prevista no plano para o outono/inverno mas nas últimas semanas não tinha sido apontado um momento para a sua ativação ou que estruturas seriam mobilizadas, questões que têm sido suscitadas pela Ordem dos Médicos e pela Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares.
Urgência do Amadora-Sintra alargada
O Presidente da Câmara Municipal de Sintra, Basílio Horta, também tornou público que já recebeu a garantia do Ministério da Saúde de que vai ser instalada uma área adicional na urgência do Hospital Amadora-Sintra. Na semana passada, o autarca criticou a demora na resposta à proposta feita pelas câmaras de Sintra e Amadora ao Ministério. "Nós e a Câmara da Amadora propusemos financiar um acrescento das urgências, que custa um milhão de euros. São 75m2, é urgente começar a fazer isto, senão podemos estar à beira de uma situação caótica. Foi aceite pela direção do hospital, estava convencido que ainda em setembro se iniciava a construção, mas nada foi feito até hoje", disse ao SOL Basílio Horta. Na altura, o hospital esclareceu que o projeto necessitava de autorização da tutela, implicando a alocação de recursos humanos.