Como vai lidar com a candidatura de André Ventura que já trouxe para esta campanha o caso Casa Pia e provavelmente vai querer discutir outros temas fora da agenda…
Não há temas fora da agenda. A questão é se queremos reforçar as instituições democráticas ou destruir a democracia. A questão é se são lançados determinados temas para a agenda para destruir a democracia, para pregar o ódio e para pregar a divisão dos portugueses. É essa a lógica dos populistas de extrema-direita fascistas por toda a Europa. Não é só aqui. É a divisão, o ódio, o racismo, a exclusão… Em democracia não há temas tabu. Há é uma maneira democrática de discutir e de resolver os problemas ou uma maneira antidemocrática com o objetivo de destruir a democracia e a liberdade para impor um projeto autoritário. Isso para mim é claro e vai ser claro durante toda a campanha. Não hesitarei em discutir qualquer tema, mas não farei o jogo da propaganda que sirva as forças que querem destruir a democracia.
Como reage, por exemplo, ao facto de o candidato e líder do Chega ter levantado a questão da Casa Pia?
Não há temas tabu. Temos de discutir tudo e as questões relacionadas com as disfunções da Justiça também devem ser discutidas. Nesse caso, mas também no caso do BES, na Operação Marques, no caso Tancos… Essas questões devem ser discutidas porque preocupam a opinião pública. Mas têm de ser discutidas no sentido de se corrigir aquilo que é preciso corrigir, nomeadamente na Justiça, e não para destruir tudo. Que pergaminhos têm essas forças que cavalgam o combate à corrupção? A opacidade do financiamento dessas forças é total ou é altamente questionável. Esse deputado faz um discurso anticorrupção e contra a injustiça fiscal e é ele próprio um agente de um escritório que faz a chamada otimização fiscal, ou seja, engenharia fiscal para poupar impostos a quem os devia pagar e promove os Vistos Gold que é um sistema que fomenta a corrupção e a lavagem de dinheiro.
Podia optar por ignorar os ataques dessa candidatura. Não o vai fazer.
Naturalmente que terá de haver interação com todos os que estiverem na corrida e não terei nenhuma hesitação em ter essa interação. Verei caso a caso como lidar, mas não abdico de denunciar quem não tem coerência, consistência e autoridade para falar de determinadas matérias.
Esta questão da Casa Pia surgiu na campanha quando anunciou que o ex-ministro Paulo Pedroso está a coordenar a sua campanha. André Ventura chamou-lhe ‘a candidata da Casa Pia’. Como responde a este tipo de ataques?
Aprendi com a minha mãe que ‘a palavras loucas, orelhas moucas’. As pessoas que estão comigo são pessoas em quem tenho total confiança. O que quero discutir está para além de todos os aproveitamentos rasteiros.
Até hoje todos os Presidentes da República cumpriram dois mandatos e nunca houve segunda volta na reeleição.Acredita que desta vez pode ser diferente?
Também é verdade que o número de eleitores votantes tem vindo a diminuir e inclusivamente diminuiu nas últimas eleições. Marcelo Rebelo de Sousa foi eleito com menos votantes que os anteriores Presidentes. O que é altamente preocupante. Quero que essa degradação a nível de participação se inverta e daí que tenha por objetivo convocar mais cidadãos e sobretudo os jovens. Não podem desinteressar-se do país. Se não votarem estão a desinteressar-se do país e depois não podem queixar-se. Quero contribuir para travar essa espiral negativa.
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