Josep Maria Bartomeu apresentou, esta terça-feira, a demissão do cargo de presidente do Barcelona, mas a polémica criada após o anúncio nada teve que ver com a saída do dirigente, cinco anos depois de ter assumido o cargo. Na hora da despedida, o dirigente avançou que o clube catalão aprovou na penúltima reunião do conselho de administração o projeto para integrar a Superliga Europeia. E foi precisamente este tópico que fez estalar o verniz no mundo do futebol. De acordo com a imprensa espanhola, a nova prova pretende contar com 18 equipas dos melhores campeonatos da Europa (Espanha, Inglaterra, Itália, Alemanha e França) e apresenta um modelo à imagem da NBA, ou seja, com jogos em casa e fora e um playoff final (local a designar), em que será apurado o campeão. A ganhar forma, a competição já tem também data de arranque previsto, devendo iniciar-se em setembro de 2022. Bartomeu deu o sim ao projeto, que conta já com vários outros clubes interessados em participar, caso de Real Madrid e Atlético de Madrid (Espanha); Liverpool e Manchester United (Inglaterra); PSG (França); Bayern Munique (Alemanha); e Milan e Inter (Itália).
A nova prova iria contar com o financiamento do banco norte-americano JP Morgan, na ordem dos cinco mil milhões de euros.
Na sequência das declarações do dirigente catalão, esta quarta-feira, a UEFA reiterou estar contra o projeto de criação da competição de elite. O presidente Aleksander Ceferin já “deixou claro em várias ocasiões que a UEFA se opõe veementemente à Superliga”, disse fonte do organismo que tutela o futebol europeu. “Os princípios de promoção, relegação e novas ligas não estão abertos a negociações. É assim que o futebol europeu funciona e a Liga dos Campeões é a melhor competição do mundo”, continuou, acrescentando que a nova competição se tornaria “inevitavelmente aborrecida”, uma vez que bloqueava a entrada de outsiders entre a elite europeia.
Também durante o dia de ontem, Fernando Gomes, presidente da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) e vice-presidente da UEFA, organismo no qual preside ao comité de competições de clubes, repudiou a ideia. “A hipótese de uma espécie de Superliga europeia merece o meu total desacordo e repúdio”, afirmou à Lusa. De acordo com o líder da FPF, a prova não premeia o mérito desportivo nem se trata de uma prioridade face à crise sanitária. “Pelo que se sabe, seria uma espécie de clube de privilegiados autoproclamado. Merece o meu repúdio porque o mundo vive o seu maior desafio, pelo menos do último século, e a última coisa de que necessita é da exacerbação do egoísmo”, esclareceu, assegurando ainda que a Superliga “não terá em Portugal e na FPF nenhum caminho de apoio possível”.
Na semana passada, também Gianni Infantino, presidente da FIFA, havia abordado o tema em entrevista ao jornal suíço Aargauer Zeitung: “Como presidente da FIFA, interesso-me por um Mundial de clubes, não por uma Superliga”. “O que me importa não é o Bayern jogar com o Liverpool, mas o Bayern jogar contra o Boca Juniors”, referiu, reforçando a importância de dar aos clubes não europeus “uma dimensão mundial”.