De debates não se pode dizer que se tenha feito esta campanha. Nesses moldes, Joe Biden e o atual Presidente Donald Trump defrontaram-se apenas duas vezes nos meses que antecederam as aguardadas presidenciais da próxima terça-feira. A primeira terá ficado para a História como um dos mais baixos debates a que assistiu a América moderna, que resultou aliás numa nova regra aceite pelos candidatos, determinando que durante as intervenções iniciais de cada ronda temática o microfone de quem não estivesse a falar fosse desligado para impedir as interrupções. Entre insultos e golpes baixos, ninguém venceu, houve quem escrevesse e comentasse no dia seguinte.
Quando não se sabia ainda que antes do debate final, o do passado dia 22 na Universidade de Belmont, em Nashville, Tennessee, os candidatos democrata e republicano não voltariam a defrontar-se (Trump foi infetado pelo novo coronavírus e aquele que seria o segundo debate acabou por não se realizar), uma jornalista anotava os erros que não poderia permitir-se cometer do frente a frente final. Kristen Welker, que, depois de um primeiro debate sem vencedores, incluindo Chris Wallace, da Fox News, que não foi capaz de ter mão no rumo que a noite tomou em Cleveland, depressa começou a ser aclamada nas redes sociais. Nem Biden, nem Trump: a vencedora da noite tinha sido a jornalista da NBC. Elogiaram-lhe sobretudo a capacidade para obrigar os candidatos a cumprirem os seus tempos e a forma como não permitiu que a interrompessem.
Foi uma campanha com tão poucos debates como já não havia memória. Para encontrar outra assim, seria preciso recuar ao ano de 1996, ano em que Bill Clinton derrotou o republicano Bob Dole. Será contudo necessário andar ainda mais para trás no tempo para recordar o último (e primeiro) momento na História dos Estados Unidos em que uma jornalista afro-americana havia moderado um debate presidencial até aqui. Até ao ano de 1992, quando na Universidade de Richmond Carole Simpson tomou esse lugar no frente a frente entre o então Presidente George H. W. Bush, Bill Clinton e H. Ross Perot, que se apresentava como independente.
Até Trump se rendeu a Welker
Nascida a 1 de julho de 1976 em Filadélfia, filha de um engenheiro branco e de uma agente imobiliária negra, Welker frequentou primeiro a Germantown Friends School de Filadélfia e prosseguiu os estudos em Harvard. Depois da universidade, o seu percurso foi sempre feito em televisão. Começou como estagiária no programa matinal Today da NBC. Corria o ano de 1997 e haviam-se já passado umas eleições desde que Simpson fizera História ao tornar-se a primeira moderadora afro-americana de um debate presidencial. Mas antes de em 2011 se ter tornado correspondente política na Casa Branca para essa mesma estação, função acumulada com a de pivô do Weekend Today, a sua carreira deu várias voltas. Passou pela WLNE-TV, pertencente ao grupo da ABC, pela KRCR-TV, na Califórnia, e em 2005 passou à WCAU, uma estação pertencente à NBC sediada em Filadélfia, como repórter e já como pivô aos fins de semana.
Representa regularmente o MSNBC nas conferências de imprensa na Casa Branca, mas ganhou atenção internacional depois do passado dia 22, quando a sua prestação enquanto moderadora do segundo e último debate entre Biden e Trump deu origem a 25 mil tweets com o seu nome. «Democratas e republicanos estão a elogiar Kristen Welker por ter mantido o controlo no debate final», titulou o Business Insider. Meghan McCain, a filha de John McCain que tem vindo a criticar Trump abertamente (no mês passado a sua mãe, Cindy McCain, declarou mesmo o seu apoio a Biden), agradeceu no Twitter a Welker por ter dado aos americanos «um verdadeiro debate». Entre democratas, foram vários os elogios ao trabalho de Welker na noite de dia 22. «Depois de um desastre no primeiro debate, Welker manteve Trump em cheque e colocou questões difíceis aos dois candidatos», escreveu a Democratic Coalition Against Trump no Twitter.
Até mesmo Mike Cernovich, apoiante de Trump, a apresentou como a salvadora dos debates presidenciais de 2020: «Kristen Welker salvou sozinha os debates presidenciais porque esteve bem!». E a verdade é que até Trump se rendeu a Welker. Disse-lhe o atual Presidente durante o debate, antes de se voltar para Biden: «Respeito muito a forma como está a gerir isto, devo dizer».