A pandemia de covid-19 afetou setores, empresas e famílias um pouco por todo o mundo. Confinamentos, restrições e proibições foram fatais para muitas empresas e puseram em risco tantas outras. O setor automóvel também está a sofrer com a pandemia, apesar de os valores estarem a recuperar. Dentro deste setor, o mercado de luxo também conta com prejuízos. Salvo algumas exceções.
BMW e Mercedes sofreram com a pandemia
A BMW, por exemplo, registou quebra de vendas devido à pandemia. «Infelizmente registámos uma quebra nas vendas, especialmente nos meses mais críticos da crise (abril, maio e junho)», diz ao SOL João Trincheiras, corporate comnunications manager da BMW Portugal.
Os números não foram animadores: «O mercado está a cair 39%. A BMW regista uma quebra de 28%. Estamos a cair menos que o mercado, pelo que, estamos a ganhar quota de mercado (6,9% vs. 5,8% em 2019)», avançou o responsável.
Questionado sobre se havia oferta para entrega imediata de veículos ou se os clientes tiveram de esperar pela entrega, João Trincheiras avançou que «no período da crise, não se registou grandes variações entre a procura e a oferta, pois as fábricas também estiveram paradas durante várias semanas, o que compensou a redução da procura».
No entanto, houve marcas que registaram subida nas vendas mesmo apesar da crise, como é o caso da Porsche. É natural que aconteça este crescimento mesmo em alturas de instabilidade ou crise? «No mercado automóvel esse fenómeno é pouco habitual», diz João Trincheiras. Ainda assim, as marcas Premium habitualmente registam «menores flutuações que as marcas generalistas (daí estarmos a aumentar a nossa quota de mercado). Naturalmente, quando o mercado recuperar, é natural que o crescimento destas marcas também seja inferior ao mercado», explica ao SOL.
Para o resto do ano, «é muito complicado fazer prognósticos neste cenário incerto». Apesar da queda registada de 28%, a BMW gostaria de «recuperar parte desta quebra, mas isso vai depender da evolução do mercado (que está intimamente ligado à evolução da crise sanitária)».
No caso da Mercedes, o cenário é muito semelhante. «Durante o período de confinamento, todas as marcas tiveram quebras de vendas», explica André Silveira, public relations, corporate communication & MBC pos-coordinator da Mercedes Benz, ao SOL, elaborando os motivos: «quer por atrasos nas entregas, quer pela impossibilidade de visitar os showrooms e adquirir um novo modelo. Aliás, o mercado ainda está a recuperar desse período de confinamento apresentando em final setembro uma quebra de cerca de 40% no mercado em geral».
Apesar do cenário pouco animador, a Mercedes garante que nos últimos meses tem vindo a recuperar vendas e a aproximar-se dos valores de 2019, «fruto de entregas que deveriam ter chegado durante o período de confinamento, e que foram regularizadas entretanto, bem como das nossas vendas online que mantiveram o negócio. No acumulado do ano estamos entre as marcas que menos cai ao nível de vendas, cerca de -19%», diz o responsável.
No caso da Mercedes, apesar de na maioria dos casos ter tido «veículos configurados por clientes a chegar», tiveram também viaturas para entrega imediata.
Jaguar e Land Rover com performances diferentes
Também as marcas Jaguar Land Rover não registaram uma subida de vendas neste período pandémico, como explica ao SOL Francisco Nunes, Jaguar Land Rover Sales Manager Portugal. Mas uma das marcas registou uma tendência diferente: «A Land Rover consegue uma performance muito interessante neste contexto sendo a sexta marca que menos cai versus mercado total», diz o responsável. A justificação pode ser simples: «Na Land Rover acreditamos, pelo que temos verificado, que os mais recentes lançamentos de viaturas PHEV, nomeadamente dos modelos Range Rover Evoque e Discovery Sport, que se adaptam à realidade fiscal portuguesa, vão contribuir ainda mais para atenuar os possíveis efeitos da pandemia».
Francisco Nunes diz ao SOL que as vendas da Land Rover, com dados a setembro, representam uma queda de 23,7% e a Jaguar 55,6% versus 2019, sendo que o mercado total está a cair 39%.
No caso destas marcas existiam unidades suficientes em stock de venda. «No entanto, o fecho inédito das fábricas durante algumas semanas resultou em significativos atrasos nas entregas de viaturas encomendadas com e sem cliente», situação que a marca está agora a tentar gerir da melhor forma para que os clientes sejam minimamente afetados.
Ainda assim, a Jaguar Land Rover diz que verificou existirem muitos clientes que «não sendo diretamente afetados pela crise», optaram por comprar a viatura dos seus sonhos, «apesar da situação em que vivemos».
Para os próximos dois meses, o responsável lembra que a evolução pandémica será essencial para que as fábricas não voltem a fechar «criando com isso situações de maior atraso na entrega das viaturas». Até porque, defende, «é muito complicado gerir os prazos de entrega e as expectativas dos clientes nesta situação», defende.
Lexus próxima dos valores de 2019. Porsche sobe
Menos afetada pela pandemia esteve a Lexus que assistiu a um aumento substancial da procura por viaturas semi-novas (Lexus Select). Segundo Nuno Domingues, diretor da Lexus Portugal, «no acumulado ao final do mês de setembro, o volume de viaturas novas e usadas transacionadas pelas equipas de vendas dos centros Lexus cifrava-se em valores muito próximos de 2019». Ora, diz o responsável, «tendo em linha de conta que nos primeiros de confinamento houve um abrandamento quase total do negócio, regista-se efetivamente um crescimento destas vendas nos restantes meses», diz ao SOL, lembrando que a crise sanitária acarretou também uma crise económica. «Posto isto, nos contextos de crise económica mais recentes, assistiu-se a um aumento do peso do mercado Premium face ao mercado total. Haverá fatores externos ao plano económico que também terão influenciado esta tendência mas o facto é que, aparentemente, o mercado Premium não é tão suscetível aos cenários de crise económica».
Já a Porsche começa por dizer ao SOL que «não diria que a venda de automóveis de luxo subiu em Portugal», até porque «todas as marcas com exceção da Porsche baixaram as vendas», avança Nuno Costa, PR & Marketing Manager Portugal da Porsche Ibérica. Em números, a Porsche está a subir cerca de 25% com cerca de 600 unidades entregues até ao final do mês passado.
Para alguns modelos a marca teve oferta imediata mas para outros não. «Trata-se de um Porsche. Um sonho e há clientes que vivem muito todo este processo. Preferem esperar e fazer a sua execução muito personalizada e exclusiva», diz Nuno Costa.
Questionado sobre se é normal este crescimento em alturas de crise, o responsável não tem dúvidas que para a Porsche «enquanto marca, não se trata de um aumento de vendas avulso». E justifica: «Incorporámos uma nova gama. O Taycan é o nosso primeiro elétrico e como tal, já tínhamos feito um longo trabalho de pré-venda. Esta nova gama é responsável por estamos a crescer nas vendas». Assim, a marca de luxo espera crescer 20% em relação ao ano passado, estimando chegar aos 920 automóveis.
Já a Ferrari diz que faz parte da política da empresa não falar em números nem em vendas. Ainda assim, ao SOL, a marca lembrou as palavras do CEO Louis Camilleri em maio deste ano: «Frequentemente afirmamos que embora não estejamos imunes a choques económicos ou outros choques brutais, somos significativamente mais resistentes do que a maioria. Esta crise servirá para ressaltar essa afirmação, esperançosamente».
Orçamento é suficiente?
Questionadas pelo SOL sobre as medidas para o setor automóvel presentes no Orçamento do Estado para o próximo ano, a opinião diverge.
No caso da BMW, João Trincheiras diz que «continuamos sem ver na proposta incentivos à dinamização do mercado automóvel com redução da idade do parque circulante ou o reforço dos incentivos dirigido aos particulares para aquisição de veículos eletrificados», pontos que considera importante.
A Porsche defende que o documento continua a penalizar «brutalmente» a aquisição do automóvel. «Devia ser repensada toda a dinâmica do ISV para incrementar a venda de novos veículos de forma a fomentar a base», o que faria cativar mais receita e melhorar o parque automóvel português, defende Nuno Costa.
Já Francisco Nunes, da Jaguar Land Rover, considera que ao não alterar a maior parte dos incentivos que já estavam previstos no Orçamento anterior, o Governo «continua a contribuir de forma positiva para o desenvolvimento do setor». No entanto diz que seriam esperadas medidas para ajudar a ultrapassar a crise.
Já a Lexus mostra-se satisfeita com o facto de terem prevalecido as medidas de estímulo à redução de emissão de CO2.