Hipermercados nem às 6h30 nem da parte da tarde. E a partir das 13h, nem cafés nem take-away, como já estava previsto, apenas entregas ao domicílio no caso de restaurantes. E só poderão manter-se a funcionar mercearias ou pequenos supermercados com porta para a rua até 200m2. Depois das críticas e polémica dos últimos dias em torno das difereças de tratamento do setor, e do anúncio do grupo Jerónimo Martins de que iria abrir às 6h30 (pretensão recusada em Lisboa e Cascais), o Governo cortou as excepções no comércio que pode manter-se a funcionar durante o fim de semana a partir das 13h nos concelhos de risco. Ao fim de sete horas de conselho de ministros, o primeiro-ministro anunciou as decisões e reiterou que a situação epidemiológica é grave. E depois de uma questão dos jornalistas sobre se assumia quota parte na contenda, assumiu a culpa pela mensagem e tornou-a direta: “A culpa é toda minha. Seguramente foi o mensageiro que transmitiu mal a mensagem. Nada como corrigir: é mesmo para ficar em casa. As excepções são todas eliminadas, sobretudo aquelas que geraram tentativas ou oportunidades de interpretação defeituosa daquilo que foi uma medida que, com equilíbrio e bom senso, tentámos implementar”.
Dois terços do país com risco muito elevado Na reunião, o Governo reviu a lista de concelhos que estão acima dos 240 novos casos por 100 mil habitantes, o patamar de risco elevado escolhido para determinar que municípios estão sujeitos a medidas mais apertadas, durante a semana a partir das 23h, além do teletrabalho obrigatório para quem pode, e ao fim de semana a partir das 13h.
Não foram mais uma vez divulgados os números por concelho, que deixaram de ser disponibilizados pela DGS há duas semanas. A revisão com os dados mais recentes levou o Governo a retirar sete concelhos do mapa e a pintar de vermelho 77 novos concelhos, o que significa que um terço dos municípios do país, que já representam quase a totalidade da população, estão agora neste nível mais elevado de contágio.
Nestes novos concelhos, as medidas não entram em vigor já este fim de semana, apenas a partir de segunda-feira (os restaurantes têm de fechar às 22h e o recolher obrigatório vigora entre as 23h e as 5h). A justificação foi dar tempo aos municípios em causa para se adaptarem, mas o primeiro-ministro pediu prudência na mesma.
Medidas diferenciadas na última semana de novembro
Se no sábado António Costa tinha apontado para esta quinta-feira o cenário de medidas diferenciadas para os concelhos em patamares mais elevados de incidência, ontem adiantou que o escalonamento de medidas está a ser desenhado, mas apontou agora medidas diferenciadas entram em vigor dia 24 de novembro. É daqui a 12 dias, sendo que a decisão surge numa altura em que a região Norte, onde a incidência passa os mil casos por 100 mil habitantes tem dado alguns sinais de abrandamento. No sábado António Costa nomeou o pior concelho, Paços de Ferreira, na altura com uma incidência superior a 4000 casos por 100 mil habitantes. Ontem não revelou o nome, mas o número baixou para os 3600 casos por 100 mil habitantes. Havendo melhoria, e usando o exemplo deste concelho, a incidência está ainda assim bastante acima do patamar dos 240 casos por 100 mil habitantes a duas semanas.
Ordem pede números e aconselha fecho de liceus em cenário de maior risco
O gabinete de crise da Ordem dos Médicos, que esteve reunido também esta quinta-feira, defendeu ainda antes do anúncio, a divulgação da incidência por concelhos, “fundamental para implementação de medidas mais precisas, a sua monitorização e intervenção determinante do poder local e autárquico”. São os números que não têm sido divulgados e não permitem perceber em que estado de disseminação da doença se encontram os diferentes concelhos do país. A Ordem refere por exemplo um patamar de 960 casos por 100 mil habitantes que poderia complementar os mapas de risco na diferenciação de concelhos.
Em comunicado, a estrutura defende também a necessidade de considerar confinamentos seletivos por NUTs a nível regional durante, no mínimo, duas a três semanas, privilegiando a manutenção dos setores de comércio de bens essenciais e, no caso das escolas, de creches, ensino pré-escolar e creches, antecipando assim um cenário em que os alunos mais velhos poderiam ter aulas à distância, isto nos concelhos de maior risco.
O cenário de aulas não presenciais não foi colocado pelo Governo nesta fase, defendendo como um dos objetivos na estratégia de perturbar o mínimo a atividade do país, manter as escolas abertas. Os médicos defendem, por outro lado, que é necessário garantir os meios para prevenção e controlo da infeção, nomeadamente nos transportes públicos. E pedem um esclarecimento da discrepância de valores sobre a capacidade do SNS transmitida pelo Governo. António Costa referiu durante a semana que há 704 camas de UCI para doentes com covid-19 nos hospitais, sem desmarcar atividade. Filipe Froes, coordenador do gabinete de crise, alertou, na SIC, que são cerca de 740 neste momento, mas para todos os casos que precisem de medicina intensiva no país e não apenas doentes infetados, informação fornecida à Ordem pelos médicos da especialidade. Ontem estavam internados em UCI 383 doentes com covid, mais de metade as camas do país.