Apesar de a oferta pública de aquisição (OPA) da Cofina à Media Capital ainda ter pontos por conhecer como, por exemplo, o valor exato por ação, a operação já está condenada ao fracasso desde o início. O SOL sabe que os atuais acionistas não tencionam vender a sua participação. «Tal como já disse a outras publicações, não tenho interesse nenhum em vender», disse Mário Ferreira ao SOL. Mas, a par do empresário, que detém mais de 30% da Media Capital através da Pluris Investments, que não vai querer vender a sua posição na empresa que detém a TVI, o mesmo acontece com o restantes acionistas.
A Triun, que detém agora 23% da empresa, já veio afastar um cenário de venda. «Como é público, a Triun adquiriu recentemente cerca de 23% da Media Capital a um preço por ação que (também facto público) ultrapassa bastante o valor do preço por ação previsto na OPA lançada pela Cofina», começa por dizer a empresa de Paulo Gaspar ao SOL. «Acha plausível, e do ponto de vista racional, económico e de gestão, que a Triun adquirisse uma participação por um valor muito superior por ação para, logo de seguida, ir vendê-la a um preço inferior, realizando uma menos-valia superior a 35%?», questiona.
Miguel Osório, da Bizpartners, também não mostra disponibilidade para vender. A empresa possui agora 11,9725% do capital da dona da TVI. «Eu e os meus sócios da Bizpartners não estamos interessados em vender. Faz parte de um acordo que foi celebrado com a Prisa», diz ao SOL. «Nesta fase, não faz qualquer sentido e é um investimento que queremos que dê os seus frutos com o tempo e com o trabalho que todos vamos fazer», garante.
Já Rui Freitas, da Zenithodyssey Lda., diz que «a questão não tem a ver com disposição». E explica: «É um investimento que tem 15 dias e não é uma coisa que estejamos a equacionar porque acreditamos na mais-valia do projeto quando decidimos fazer o investimento, e achamos que ainda há algum caminho pela frente para fazer», avança ao SOL. «Neste momento é como lhe digo, não estamos a analisar a questão do preço. Acreditamos que há bastante valor na companhia. Não é o valor que está em causa mas, nesta fase, não estamos a equacionar porque acreditamos no próprio lucro do investimento. Num prazo curto de tempo não é algo que esteja no nosso horizonte, ainda agora entrámos», defende.
Do lado da CIN, João Luís Serrenho também não mostra interesse em vender a sua participação e diz acreditar no potencial de valorização da empresa. A venda é completamente prematura, diz ao SOL. O empresário relembra que não seria lucrativo até porque, lembra, como é público, o contrato de venda tem uma cláusula em que a mais-valia reverteria a valor da Prisa.
Feitas as contas, mesmo que qualquer dos outros acionistas recebesse da Cofina uma oferta acima dos 0,61 euros, esse valor iria, por lei, para a Prisa, e não para os vendedores.
E no anúncio da OPA da Cofina está definido que para que a operação tenha sucesso é necessário que, «até à data e em resultado da liquidação física e financeira da oferta, o oferente se torne titular de ações representativas de mais de 50% do capital social e direitos de voto da sociedade visada». Ou seja, a Cofina faz condicionar a eficácia da oferta à aquisição de mais de 50% da sociedade visada. No entanto, só a Pluris e a Triun somam 53%, impedindo automaticamente que a OPA tenha sucesso.
O próprio órgão regulador entende que a contrapartida determinada pelo auditor não pode ser inferior ou superior à contrapartida atualizada anunciada pela Cofina. «A contrapartida a oferecer aos titulares de até 5,31% do capital social da sociedade visada será determinada por auditor independente, e nunca será inferior a 0,415 euros por ação», afirma o regulador, ou, se for determinado pelo auditor um valor superior, a Cofina terá de prescindir desta condição e terá de oferecer a todos os acionistas o valor superior que tenha sido definido. «Se o auditor determinar valor inferior ou igual a 0,415 euros por ação, a OPA será dirigida, por esse valor, a 100% do capital social da visada; se o auditor determinar valor superior a 0,415 euros por ação, a OPA é dirigida, pelo valor definido pelo auditor, a um máximo de 5,31% do capital social. Já se a Cofina renunciar à condição de preço máximo, a OPA é dirigida, pelo valor superior definido pelo auditor, à totalidade do capital social da visada».
O SOL questionou a CMVM sobre esta possibilidade de fracasso da OPA mas, até ao fecho desta edição, não teve esclarecimentos.
No entanto, a recusa de venda por parte dos acionistas pode não fazer ‘morrer’ a operação por completo, uma vez que pode não acontecer sobre a totalidade do capital, mas passar para um universo mais pequeno, como explica a CMVM nas perguntas e respostas sobre este negócio.
Recorde-se que, para os acionistas minoritários, a condição era que o preço fosse determinado por um auditor independente, o que ainda não aconteceu.
Mário Ferreira pode liderar
Esta semana, os acionistas da Media Capital sugeriram o nome do empresário Mário Ferreira para presidente do grupo. A proposta, que vai ser votada na assembleia-geral de 24 de novembro, conta ainda com o nome de Cristina Ferreira para vogal da administração. Aliás, de todos os novos acionistas, o empresário é o que conta com a maior posição, superior a 30%.
Mas há mais. Paulo Gaspar, do grupo Lusiaves, é sugerido para vice-presidente, enquanto Avelino Gaspar (Lusiaves), Luís Cunha Velho (presidente interino do grupo), João Serrenho (CIN), Miguel Osório, Rui Freitas e Paula Ferreira são sugeridos para vogais, tal como Cristina Ferreira.
Carlos Lucena é proposto para presidente da mesa da assembleia-geral e Sofia Cerveira Pinto para a presidência do conselho fiscal. Para a comissão de remuneração dos órgãos sociais foi indicado Avelino Gaspar.
Recorde-se que a Media Capital está em mudanças, depois de a espanhola Prisa se ter desvinculado totalmente do grupo ao ter vendido a totalidade da sua participação.
Recentemente, o grupo anunciou que Manuel Alves Monteiro vai deixar de ser CEO da Media Capital, sendo substituído «transitoriamente» por Luís Cunha Velho, que desempenhou nos últimos meses funções de assessor do conselho de administração e já foi diretor-geral da estrutura acionista, de acordo com um comunicado enviado às redações. «Manuel Alves Monteiro não o vai integrar e deixa, nessa data, de ser CEO do Grupo», refere o comunicado do mesmo.