Um terço dos museus do mundo acabarão por despedir trabalhadores

“Com o encerramento dos museus, o número de visitantes diminuiu drasticamente, o que teve consequências económicas, especialmente para os que dependem das entradas”. 

É um apelo urgente aos governantes de todo o mundo aquele que o Conselho Internacional dos Museus fez esta semana: para que “urgentemente sejam alocados fundos de apoio aos museus e aos seus profissionais, para que possam sobreviver à crise” espoletada já há perto de um ano pela pandemia de covid-19 “e dar continuidade à sua missão vital de serviço público”. O cenário que traça o mais recente relatório do Conselho Internacional dos Museus (ICOM – Iternational Council of Museums), organização não-governamental com estatuto consultivo no Conselho Social e Económico das Nações Unidas, sobre a situação em que estão atualmente os museus de todo o mundo é preocupante: o impacto da crise causada no setor pela pandemia será grande – e far-se-á sentir tanto a curto como a longo prazo.

Os números apresentados no documento tornado público esta semana e que resulta de dados recolhidos entre os meses de setembro e outubro junto de 900 dos seus membros nos cinco continentes, não deixam margens para dúvidas sobre as consequências que estão a ter para os museus as restrições sanitárias e aos horários de funcionamento, ou mesmo o seu encerramento, que está a ser regra em alguns países. Um dos dados mais alarmantes está relacionado com o número de despedimentos que o ICOM está a estimar no setor. No inquérito cujos dados são agora tornados públicos, 30,9% dos museus que responderam que vão despedir trabalhadores permanentes; e 46,1% que vão despedir trabalhadores temporários. E a região do mundo mais afetada é, até aqui, a América do Norte, onde 52% dos museus responderam ter já despedido trabalhadores entre os meses de fevereiro e setembro. Na Europa, a percentagem é de 25,2%.

Entre os meses de abril e outubro, 10,7% dos trabalhadores temporários foram dispensados e 16% das instituições inquiridas admitiram não ter renovado contratos a termo. Do lado dos trabalhadores, 40,9% perderam parte dos seus salários como consequência da crise gerada pela pandemia.

“Com o encerramento dos museus, o número de visitantes diminuiu drasticamente, o que teve graves consequências económicas, especialmente para os que dependem quase totalmente dessas entradas”, alerta a o organização, que no passado mês de maio tinha já divulgado um primeiro relatório sobre o impacto da pandemia nos museus, que dava na altura conta do encerramento da quase totalidade das instituições associadas à organização por todo o mundo durante a primeira vaga da pandemia, o que resultara já na altura em “sérias repercussões a nível económico, cultural e social”.

Cerca de dois terços dos museus que responderam ao inquérito do ICOM têm como principal fonte de receitas fundos públicos e 25,8% são financiados maioritariamente por fundos privados. À parte disso, são 33,8% os que dependem da bilheteira para garantir a continuidade.

“A recuperação das nossas economias e o processo de cura das nossas sociedades depois da crise de covid-19 vai ser longo e complexo”, relembra a organização no texto que acompanha a divulgação do relatório. “Os museus, como protagonistas-chave no desenvolvimento local e lugares sem equivalência para as pessoas se encontrarem e aprenderem, vão ter um importante papel na reconstrução da economia local e na reparação do tecido social das comunidades afetadas”.