Dahiana Gisela Madrid, enfermeira que estava na casa de Diego Armando Maradona, na manhã em que o jogador faleceu, garantiu que o ouviu mover-se dentro do quarto às 7h30, embora nunca tenha entrado na divisão e tenha optado por deixar o craque descansar, sendo que escreveu que o vigiou num relatório médico.
"Pelas 7h30, ouvi-o mover-se dentro do quarto", terá dito a enfermeira à Procuradoria-Geral da República de San Isidro, que transmitiu esta informação numa nota de imprensa emitida esta sexta-feira. No entanto, no segundo depoimento, a enfermeira disse que a empresa Medidom – que se foca nos cuidados de saúde prestados ao domicílio -, para a qual trabalha, obrigou-a a escrever num relatório médico que havia tentado "vigiar" Maradona quando, na realidade, deixou-o descansar e não entrou no quarto.
De acordo com o órgão de informação argentino Clarín Deportes, uma fonte judicial próxima do processo afirmou: "Foi isso que ela escreveu no relatório que entregou à empresa, mas na Justiça, nas duas vezes em que testemunhou sob juramento, reconheceu que nunca havia entrado naquele quarto naquela manhã".
Por outro lado, a agência de notícias Télam, da Argentina, divulgou detalhes do relatório assinado por Madrid. No documento, pode ler-se: "6h30: o paciente descansa", "7h30: pode ser ouvido a vaguear no quarto, diurese [urina] numa sanita portátil", "8h30: continua a descansar", "9h20: recusa fazer a verificação dos sinais vitais", "10h45: a Dr.ª Cosachov informou-me de que estava a caminho com o psicólogo. Referiu que devia esperar para administrar a medicação sendo que a modificaria". De seguida, a profissional de saúde deixou claro que, pelas 11h55, aquando da chegada da psiquiatra Susana Cosachov e do psicólogo Carlos Díaz, a entrada no quarto foi forçada "após várias tentativas em que o paciente não reagiu".
Estas contradições estão a gerar controvérsia, sendo que Madrid indicou que, pelas 12h10, Maradona estava "sem pulsação" e realizou "reanimação cardiorrespiratória básica", tendo solicitado "ao pessoal da segurança privada" que "fizesse respiração boca a boca" ao doente e acrescentando que pediu aos mesmos que chamassem uma ambulância "que chegou ao domicílio pelas 12h17". "Foi feita a reanimação durante aproximadamente 30 minutos quando chegaram quatro ambulâncias com profissionais que realizaram manobras de reanimação avançadas. Todo o pessoal de saúde foi alternando as manobras".
A procuradoria-geral, que está a investigar as circunstâncias da morte de Maradona, conseguiu determinar que a primeira ambulância demorou 11 minutos a chegar a San Andrés, em Villanueva. Segundo a entidade judicial, na chamada telefónica, o médico de Maradona não revelou o nome do paciente, referindo-se apenas a uma pessoa "de exatamente 60 anos" que estava em paragem cardiorrespiratória. Por outro lado, a procuradoria confirmou que o primeiro depoimento da enfermeira foi registado na madrugada do dia 25 de novembro, mas terá sido outra pessoa a ver o jogador com vida pela última vez.
“Nos depoimentos ficou claro que ele [enfermeiro] teria sido a última pessoa a vê-lo com vida aproximadamente às 6h30 da manhã. Relatou tê-lo encontrado a descansar na sua cama, garantindo que dormia e respirava normalmente", partilhou a Clarín Deportes, adiantando que o enfermeiro cujo nome é Ricardo terminou o turno pelas 6h30, hora em que a enfermeira Dahiana terá entrado ao serviço. O enfermeiro terá colaborado voluntariamente com as autoridades, disponibilizando o telemóvel para que estas acedam ao histórico do seu WhatsApp e confirmem que divulgou as então novidades com a empresa Medidom, isto é, o facto de que Maradona estava vivo aquando da mudança de turnos.
Sublinhe-se que a autópsia revelou que Diego Maradona morreu na sequência de um "edema agudo de pulmão secundário e insuficiência cardíaca crónica exacerbada", sendo que também foi descoberta uma "cardiomiopatia dilatada" no seu coração, uma patologia que produz um aumento das válvulas cardíacas. Esta doença prende-se com alterações do músculo cardíaco em que os ventrículos aumentam de tamanho e não são capazes de bombear sangue suficiente para satisfazer as necessidades do organismo, provocando a insuficiência cardíaca.
Recorde-se que o ex-jogador – considerado como um dos melhores futebolistas de todos os tempos – era conhecido por várias polémicas com o consumo de droga. Maradona chegou mesmo a sofrer uma overdose e a ficar em coma. Depois de ter estado internado, El Pibe garantiu estar completamente limpo e que não consumia drogas há mais de 13 anos. Os médicos vieram a público na altura confirmar a informação, adiantando que estava "completamente limpo da cocaína", mas admitiam que em "alguns momentos" teria cometido "excessos com bebidas alcoólicas".