André Ventura desafia os presidentes do PSD, CDS e da Iniciativa Liberal para “começar a construir uma alternativa viável” ao Governo socialista. Numa carta aberta aos líderes e militantes destes três partidos, o presidente e deputado do Chega defende um entendimento à direita para responder a uma eventual crise política.
André Ventura escreve que a direita, se quer merecer a confiança dos portugueses, tem de “perceber os sinais e os caminhos necessários a uma plataforma de governação”.
Garantindo que “a escolha será entre governar com o Chega ou permitir que o Partido Socialista se perpetue no poder”, o líder do partido define cinco condições “um Governo de renovação de direita em Portugal”.
A primeira é “a reforma da justiça, com penas efetivamente duras para a criminalidade grave e com um modelo dissuasor do crime económico, da corrupção e do tráfico de influências”. Ventura não faz qualquer referência a bandeiras do Chega como a castração química para quem abusa de menores.
A segunda exigência é “a reforma do sistema político, com uma redefinição dos círculos eleitorais e uma redução significativa, gigantesca, dos gastos políticos em Portugal”.
Em terceiro lugar, o Chega defende “uma reforma do sistema fiscal”. Por último, Ventura coloca como condição o “fim da impunidade” e “a resolução do problema cigano”.
O apelo de André Ventura surge dois dias depois de Francisco Rodrigues dos Santos ter garantido, em entrevista ao semanário SOL, que “o CDS não fará alianças políticas com o partido Chega”.
O presidente do CDS mostrou-se disponível para uma aliança pré-eleitoral com o PSD nas próximas eleições legislativas, mas excluiu o Chega de uma eventual coligação de direita.
Ventura lamenta a postura dos partidos de direita e avisa que serão os portugueses a decidir se será possível a direita voltar ao poder sem o apoio do Chega. “Sem o Chega não haverá, pelo menos nos próximo anos, maiorias possíveis à direita. O que fazer a partir daqui? Chorar e continuar a bater no peito contra o fantasma do racismo e da xenofobia, alimentando a retórica socialista e bloquista, ou começar a construir uma alternativa viável à corrupção socialista?”.
Pelo meio, o líder do Chega garante que não tem “preconceitos” e aceita o voto de todos os portugueses: “queremos os votos de todos. Salazaristas, marcelistas, ex-comunistas, neoliberais, fascistas, católicos, consagrados, evangélicos, religiosos de todas as confissões. É tempo de não ter medo de ser antissistema”.
O acordo nos Açores lançou a discussão sobre se o PSD deve ou não sentar-se à mesa com o Chega. Nos Açores, o PSD governa com o CDS e o PPM, mas fez um acordo de incidência parlamentar com o Chega.
Rui Rio nunca fechou a porta a negociações se o partido de André Ventura se moderar. Na última entrevista, à TVI, o presidente do PSD defendeu que “o tempo vai obrigar o Chega a ser um partido pela positiva. Nós não sabemos o que vai ser o Chega daqui a dois anos”.
A abertura de Rui Rio foi criticada por vários dirigentes do partido. Jorge Moreira da Silva, José Eduardo Martins, Pedro Duarte, Pacheco Pereira e Paula Teixeira da Cruz foram alguns dos sociais-democratas que contestaram uma aproximação ao Chega.
Ventura recebe aliança
André Ventura recebeu esta segunda-feira o presidente do Aliança, Paulo Bento. No final da reunião que durou cerca de meia hora, o Chega revelou, em comunicado, que os dois partidos vão “desenvolver conversas no âmbito de uma plataforma de entendimento para os próximos atos eleitorais”. O comunicado revela ainda que “em cima da mesa esteve também uma possível convergência à direita tão necessária quanto urgente para o bem do futuro dos portugueses”.
A Aliança recorda que Paulo Bento, que substituiu Santana Lopes, venceu o congresso com a promessa de ser “parte ativa na construção de uma frente eleitoral que envolva todos os partidos à direita dos socialistas”. Em comunicado, o partido confirma que a reunião serviu para “analisar a necessidade de encontrar entendimentos entre os partidos não socialistas”.