A esquerda condenou a criação de um museu sobre Salazar em Santa Comba Dão. O Parlamento discutiu esta quinta-feira uma “petição de repúdio e exigência de que se trave e abandone a anunciada criação do Museu Salazar”.
O projeto da câmara de Santa Comba Dão foi condenado pelo PS, Bloco de Esquerda, PCP e PEV. “A pretensão é compreensível, mas talvez o tempo escolhido não seja o mais adequado”, defendeu a deputada do PS Maria do Rosário Gambôa.
A deputada socialista considerou que não seria “prudente” avançar com este projeto, da autoria da câmara de Santa Comba Dão, quando “a nível europeu e a nível nacional assistimos ao florescer de movimentos e ideologias nacionalistas de cariz totalitário”.
O PCP, pela voz do deputado António Filipe, defendeu que este projeto “mais não seria do que um local de romagem de saudosistas, invocador de alegadas virtudes de Salazar e do seu regime, branqueador de todo o lastro de repressão, de atraso e de miséria que o salazarismo representou para Portugal”.
O deputado comunista considera que seria “uma afronta” avançar com esta iniciativa no atual contexto político. “Num momento em que forças políticas de extrema-direita, apologistas do ódio, do racismo e da xenofobia, e branqueadoras do fascismo, emergem em vários países do mundo como uma ameaça real à democracia, mais importante se torna que em Portugal, país que foi oprimido por meio século de ditadura fascista, as forças democráticas não faltem à chamada e digam não a iniciativas como a da criação de um museu alusivo a Salazar que seria uma afronta a todos os que, lutando pela liberdade, sofreram a prisão, a tortura ou o assassinato às mãos de uma ditadura que conduziu o país à miséria”, afirmou o deputado António Filipe.
Para o PCP, o “espólio de Salazar digno de estudo está no Arquivo Nacional da Torre do Tombo à disposição dos investigadores”.
O Bloco de Esquerda também condenou a criação deste museu anunciado pela autarquia de Santa Comba Dão. A deputada Alexandra Vieira considerou que a criação de um museu seria “trair a memória dos milhares de vítimas e dos milhões de portugueses” que viveram durante “uma das mais violentas ditaduras”.
O líder parlamentar do PEV, José Luís Ferreira, também condenou a criação de um museu sobre Salazar.
A petição, promovida pela União de Resistentes Antifascistas Portugueses (URAP), defende que “a criação de um museu como o anunciado em Santa Comba Dão, não será apenas um depósito do espólio do ditador Salazar, mas um centro de conspiração contra a democracia e o Portugal de Abril”.
A iniciativa, que contou com mais de dez mil assinaturas, pretende que seja “definitivamente” travado o projeto de museu ao ditador, adotando a designação de Centro de Interpretação do Estado Novo”.
Liberdade para todos
O CDS considerou que aquilo que se pretende é criar “um centro de estudos e investigação” e “querer apagar a história é um ato profundamente antidemocrático. Tem de haver liberdade para todos estes projetos”.
Paulo Rios de Oliveira, do PSD, defendeu que este projeto tem “origem no poder local democrático” e visa permitir que “não se branqueie o Estado Novo”.
A polémica sobre a possibilidade de criar um museu dedicado a Salazar não é nova. O projeto já foi anunciado várias vezes, mas acabou por nunca ser concretizado.
O presidente da câmara de Santa Comba Dão, Leonel Gouveia, referiu, em agosto, que o objetivo é criar um “projeto cultural agregador do potencial turístico da região, visando a criação de uma rede de Centros Interpretativos de História e Memória Política da Primeira República e do Estado Novo”. O autarca socialista garantiu que “este será um local para o estudo do Estado Novo e nunca um santuário para nacionalistas. O que vai ser dado a conhecer é um período de 50 anos da história do nosso país”.