A apresentação do plano de reestruturação da TAP aos sindicatos dos trabalhadores afetos à companhia provocou um rastilho de espanto e indignação – o plano desenhado com o contributo da consultora Boston Consulting Group e do Deutsche Bank tem de ser apresentado a Bruxelas até 10 de dezembro e vai ainda mais longe do que se previa: incluindo dois mil despedimentos – de 500 pilotos (dos atuais 1468), 750 tripulantes de cabina efetivos e outros 750 funcionários do pessoal de terra (450 da TAP Maintenance & Engineering, a funcionar no Brasil, e 300 da sede). O pacote de medidas inclui ainda um corte transversal de 25% dos salários daqueles que ficam e a redução da frota da companhia. A TAP deverá ficar com 88 aviões, contra os 101 que possuía no final do terceiro trimestre (menos sete que em junho).
Cinco mil perdem emprego
Aos dois mil despedimentos anunciados juntam-se quase três mil saídas que se foram somando ao longo dos últimos meses de crise. Recorde-se que o Grupo TAP vai perder mais de 1600 trabalhadores com contratos a termo até ao final do ano, o que significa que – contando com os cerca de 200 contratos que terminam no primeiro trimestre de 2021 e os quase mil despedimentos previstos na empresa de handling Groundforce (na qual a TAP tem uma participação minoritária) – o universo TAP perderá mais de 4800 trabalhadores (diretos e indiretos) até março do próximo ano.
O anúncio deu lugar a uma primeira manifestação de desagrado na passada quarta-feira, quando centenas de trabalhadores se reuniram à porta da Assembleia da República para exigirem diálogo e transparência no âmbito do processo. «Queremos transparência» foi uma das palavras de ordem da iniciativa, promovida pelo movimento espontâneo ‘Os números da TAP têm rosto’, sem ligação aos sindicatos.
Entretanto, o Sindicato dos Pilotos de Aviação Civil (SPAC) deu o primeiro passou para travar o plano de reestruturação, interpondo uma providência cautelar para exigir informação sobre o plano que prevê o despedimento de 500 pilotos. A estrutura sindical alega que a empresa apenas deu «informação incompleta, insuficiente e enganosa» aos trabalhadores e exige participar «de forma ativa» na reestruturação da empresa.
O Bloco de Esquerda pediu, por sua vez, uma audição com caráter de urgência ao ministro das Infraestruturas e da Habitação, Pedro Nuno Santos, sobre o plano.
Prejuízo de 700,6 milhões
Esta semana foram ainda apresentados os resultados da TAP referentes ao terceiro trimestre. A companhia, como se esperava, agravou os prejuízos nos primeiros nove meses do ano para 700,6 milhões de euros – o que compara com o prejuízo de 110,8 milhões de euros no mesmo período de 2019.
No relatório, confirma-se que a TAP recebeu até ao final de setembro 582,4 milhões de euros provenientes do Estado português, no âmbito do acordo para o auxílio à empresa iniciado em junho. Este valor integra a rubrica da dívida financeira, que ascendia aos 1699,4 milhões de euros no final de setembro – um aumento face aos 932,1 milhões de euros registados no final do ano passado. Recorde-se que este valor faz parte do empréstimo do Estado português a favor do Grupo TAP que, até ao final do ano, deve chegar aos 1,2 mil milhões de euros. O Governo incluiu ainda no Orçamento do Estado para 2021 um valor de 500 milhões de euros em garantias para a TAP, para que a empresa possa financiar-se no mercado, mas que poderá ser superior (possivelmente o dobro) devido à lenta recuperação do setor da aviação.