Ontem foi dia de eleições na Venezuela, com a sua população, de cerca de 28 milhões de habitantes, a rumar às urnas para decidir quem serão os deputados que irão formar a Assembleia Nacional.
O Parlamento, atualmente, é controlado por uma grande maioria de oposição e presidido por Juan Guaidó, contudo, este domínio poderá chegar ao fim depois destas eleições.
Analistas afirmam que a aderência às urnas vai ser bastante baixa, não só pelo atual contexto de pandemia (a Venezuela conta com mais de 104 mil casos de infeção e 916 mortes devido à covid-19), mas também porque a população está de costas voltadas para a atual gestão do país. “Muitos venezuelanos, que se debatem com necessidades básicas como a falta de eletricidade, segurança ou alimentação, estão cansados dos políticos do seu país, afirmando que estes não fizeram nada para conter a queda nas condições de vida”, escreve o The Guardian.
A Assembleia Nacional é um dos últimos órgãos governamentais que não está sob o comando do atual Presidente Nicolás Maduro, mas é praticamente certo que vai regressar ao seu partido uma vez que 37 partidos opositores se recusaram a participar, apelando ao boicote das eleições, que dizem serem “uma fraude”.
Desde junho que o Supremo Tribunal de Justiça da Venezuela suspendeu a direção de diversos partidos e ordenou que fossem reestruturados, nomeando direções provisórias para esses partidos. Estas medidas foram implementadas a opositores do Governo, como Vontade Popular, Primeiro Justiça, Ação Democrática e Tupamaro, mas também a partidos que apoiam o “chavismo”, como Pátria para Todos.
O próprio líder da Assembleia, Juan Guaidó, apelou à população para boicotar o voto e para participar na consulta popular, que irá decorrer entre 5 e 12 de dezembro, onde os venezuelanos terão a oportunidade de “exigir a cessação da usurpação da Presidência (da República) por Nicolás Maduro e convocar eleições presidenciais e parlamentares livres, justas e verificáveis”.
Guaidó é reconhecido como o Presidente interino legítimo deste país por mais de cinquenta países, que classificaram as eleições de 2018 que garantiram o segundo mandato de Maduro como fraudulentas.
A comunidade internacional, incluindo a União Europeia, irá manter a mesma posição em relação às presentes eleições que não serão reconhecidas devido à falta de transparência e justiça.
O novo parlamento terá mais 110 deputados do que os atuais, aumentando de 167 para 277, por decisão do Conselho Nacional Eleitoral, o órgão diretivo das eleições, e será renovado em 5 de janeiro, quando os legisladores eleitos ocuparem os seus lugares.
Estas eleições contam com mais de 14 mil candidatos para a Assembleia, onde figuram a primeira-dama, Cilia Flores, e um filho de Maduro, que para a campanha adotou o nome Nicolás Ernesto.
Desde janeiro, que a Venezuela funciona com dois Parlamentos parcialmente reconhecidos, um de maioria da oposição, liderado por Juan Guaidó, e um pró-regime do Presidente Nicolás Maduro, liderado por Luís Parra, que foi expulso do partido opositor Primeiro Justiça, mas que continua a afirmar que é da oposição.