Sitava diz que TAP recusou dar mais informações sobre plano de reestruturação alegando confidencialidade

O sindicato refere que pediu mais informação sobre o plano de reestruturação da transportadora, mas que a administração da TAP disse que esta era “confidencial” e que apenas entregaria mais dados se fosse assinado “um acordo de confidencialidade”, acrescentando que não poderia ser divulgada informação nem aos associados.

O Sindicato dos Trabalhadores e Aviação (Sitava) acusa a administração da TAP de ocultar informação sobre o plano de reestruturação da companhia aérea aos trabalhadores, alegando confidencialidade.

Em comunicado, esta quarta-feira, o sindicato revela que, na passada segunda-feira, se realizou uma reunião com o Conselho de Administração (CA) e o Conselho Executivo (CE)  da TAP, a pedido de todos os sindicatos de terra da transportadora, para que estes obtivessem informações sobre o plano de reestruturação. No entanto, o Sitava alega que saiu “exatamente” como entrou, “sem nada”.

“Os responsáveis da empresa fizeram a já habitual descrição das dificuldades que a TAP, tal como todas as suas congéneres estão a atravessar (…) Por um lado, mostraram-nos 13 slides de um total de 198, que – segundo o CEO – o plano tem; por outro lado, quando pedimos mais informação relevante dizem-nos que é confidencial e que nos entregarão mais alguma se assinarmos um acordo de confidencialidade, acrescentando ainda que não poderemos divulgá-la, nem aos nossos associados. Pergunta-se: para que raio serve então essa informação se não pode ser utilizada? Será esta a nova forma de sindicalismo livre, o sindicalismo secreto?”, questiona o sindicato.

O Sitava refere ainda que na reunião se voltou a falar na intenção de fazerem cortes nos salários dos trabalhadores “como se estes fossem um simples salame, onde se podem retirar fatias sem que isso atinja a subsistência dos trabalhadores e das suas famílias”. “Dizem com a maior cara de pau que vão cortar em todos os rendimentos acima de 700 euros. Isto é gente que, claramente, nunca viveu com o salário mínimo ou pouco mais. Ou será que estão a contar com os chorudos prémios que receberam para compensar alguma fatiazinha que lhes venham agora cortar?”, critica o sindicato.

“Além disso falam também com cada vez maior insistência que os Acordos de Empresa vão ser suspensos. À nossa pergunta por quanto tempo, não sabem, assim como também não sabem se a suspensão é total ou parcial. Também nesta matéria é bom relembrar que quando se faz um acordo são sempre precisas duas partes que, voluntariamente, outorgam esse acordo. Suspendê-lo será sempre um ato prepotente que, a acontecer, terá que ser com intervenção do Governo”, acrescenta, o sindicato que assinala a "ironia que seria um Governo do PS apoiado à esquerda a torpedear de forma grosseira Acordos de Empresa e direitos dos trabalhadores".

Recorde-se que o Governo aprovou esta quarta-feira de madrugada, em Conselho de Ministros extraordinário, o plano de reestruturação da TAP. O documento terá de ser entregue até esta quinta-feira à Comissão Europeia, mas antes deverá ser apresentado aos partidos políticos esta quarta-feira.

O plano de reestruturação da TAP surge como uma exigência de Bruxelas no âmbito do empréstimo do Estado de até 1,2 mil milhões de euros à companhia aérea, para fazer face à crise na sequência da pandemia de covid-19. O Governo incluiu ainda no Orçamento do Estado para 2021 um valor de 500 milhões de euros em garantias para a TAP, para que a empresa possa financiar-se no mercado, uma verba que poderá ser superior (possivelmente, o dobro) devido à lenta recuperação do setor da aviação neste período.

Mas mesmo que o plano seja aprovado, há quem garanta que o futuro da companhia se encontra em risco – tal como avançou o i, tendo provocado nos sindicatos uma onda de espanto e indignação, pois vai mais longe do que se previa, incluindo dois mil despedimentos – de 500 pilotos (dos atuais 1.468), 750 tripulantes de cabina efetivos e outros 750 funcionários do pessoal de terra.

Ao i, José Sousa, do Sitava, já tinha referido que o plano de reestruturação, tal como está concebido, vai levar “ao fim da TAP”. 

Recorde-se que aos dois mil despedimentos anunciados se juntam ainda quase três mil saídas que se foram somando ao longo dos últimos meses de crise. 

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