A intervenção do ex-primeiro-ministro Passos Coelho, na passada sexta-feira, no encerramento da conferência Globalização em português: Revoluções e continuidades africanas, em Lisboa, acabou por animar o debate interno no PSD sobre o seu regresso à vida política ativa. E os efeitos da sua intervenção (com críticas de socialistas e várias reações nas redes sociais) sobre as falhas do atual Governo, do SEF à TAP, não passaram despercebidas a vários sociais-democratas. Não se antecipa que Passos Coelho queira voltar no imediato, mas o também antigo líder do PSD (e comentador) Marques Mendes vaticinou-lhe o regresso: «Mais ano, menos ano, vai fazer um regresso à vida política. Não sei se será para ser candidato a primeiro-ministro, ou para ser candidato a Presidente da República, mas acho que vai fazer isso. Não é no imediato», afirmou no passado domingo na SIC.
A frase ilustrou uma outra ideia que ganha força no PSD: a de que Passos manteve o seu capital político intacto para (se quiser) voltar à vida política ativa. Por exemplo, Marques Guedes, antigo líder parlamentar e ex-ministro. também considerou, ao Público, que «o capital político de Passos Coelho está intocável». O ex-deputado do PSD Carlos Abreu Amorim diz ao Nascer do SOL que a intervenção de Passos Coelho teve impacto e não foi pouco. «O impacto, dentro e fora do PSD, não sei qual deles é o maior, porque fora do PSD houve uma série de pessoas, de comentadores, de políticos no ativo, ou paralelos ao ativo que, são normalmente louvaminheiros à geringonça e aos governos de António Costa, ficaram muito perturbados». Para o ex-parlamentar, as reações que viu só tem um significado: a intervenção de Passos foi certeira e os «alvos sentiram a dor das palavras e das observações e percebeu-se outra coisa: nos últimos anos, o espaço não socialista está completamente fragmentado (…) e basta uma intervenção de menos de 10 minutos para dizer coisas que não são propriamente novidade, mas dizê-las como Passos Coelho as disse, e percebe-se que só uma pessoa é capaz de unir o espaço não socialista e é Pedro Passos Coelho». Carlos Abreu Amorim não sabe se o antigo líder do PSD vai voltar, mas tem outra certeza: «O Dr. Pedro Passos Coelho é uma pessoa absolutamente incontornável no futuro político deste país». Em suma, para Abreu Amorim, o capital político de Passos está intocado e as «pessoas já tinham saudades de quem falasse sério e a sério».
Por seu turno, esta semana, o líder do PSD, Rui Rio, foi questionado se se sentia desconfortável com a intervenção de Passos. E teve resposta pronta: «Nem fico confortável, nem desconfortável, tem todo o direito em falar no momento em que entende que deve falar, porque não?».