Por Judite de Sousa
Jornalista
Inevitavelmente, os assuntos da governação nos últimos quatro anos acabaram por dominar as entrevistas aos candidatos presidenciais. Dificilmente poderia ser de outra forma. O Presidente não tem funções executivas e a sua influência incide fundamentalmente no uso da palavra. Dada a boa relação entre Marcelo e António Costa percebeu-se ao longo do mandato que a magistratura de influência foi efectivamente exercida é que, em alguns casos, Marcelo foi a sombra de António Costa.
Nas entrevistas, Marcelo esteve igual a si próprio: bem preparado, apto para responder a todas as perguntas, sem gráficos nem notas em cima da mesa. Foi o candidato-Presidente fiel ao seu estilo, antecipando perguntas, fixando as suas mensagens, não fugindo aos temas. Pela minha parte, gostaria de o ter ouvido mais sobre a fraca oposição que temos (Marcelo chegou a falar por diversas vezes na necessidade de uma oposição forte), sobre fenómenos populistas como o Chega, a exigência de um acordo escrito com PS, PCP e BE para o orçamento de 2022, as consequências devastadoras da pandemia nos planos económico e social, os grandes casos mediáticos pendentes na justiça e o destino a dar ao dinheiro que um dia chegará de Bruxelas.
Com a reeleição garantida, parece não existir grandes dúvidas que Marcelo não terá dificuldades nos debates presidenciais. Será mais ingrato o papel dos moderadores do que o do candidato. Marcelo, habituado aos palcos televisivos, irá ocupar o espaço e colocar os seus oponentes num patamar de inferioridade. Poderão não existir xeque-mate mas também não se esperam grandes confrontos que desequilibrem as contas.
Tenho para mim que os debates mais expectantes serão os de Marcelo/André Ventura e o que colocará frente a frente Ana Gomes/Andre Ventura. Se há algo que esta corrida presidencial tem de interessante é saber quem irá ficar em segundo lugar. E com que argumentos. O resto é previsível.