A TAP enfrenta o seu ‘ano zero’ em 2021, depois de, nos últimos meses, a pandemia ter virado do avesso todo o setor da aviação. Salva da falência pelo Estado português – que pagou 55 milhões de euros ao anterior acionista privado de referência, David Neeleman, para passar a controlar 72,5% da empresa (enquanto 22,5% ficaram na posse de Humberto Pedrosa e os restantes 5% na de pequenos acionistas) e ainda injetou 1,2 mil milhões na companhia para fazer face à crise –, a TAP entra no novo ano sob o signo da incerteza e da expetativa.
A companhia continua a aguardar pelo aval da Comissão Europeia para colocar em prática o plano de reestruturação, elaborado em parceria com o Boston Consulting Group e o Deutsche Bank, que prevê dois mil despedimentos (de 500 pilotos, 750 tripulantes de cabina e outros 750 funcionários do pessoal de terra). O pacote de medidas, que inclui ainda um corte transversal de 25% para os salários a partir dos 900 euros (e de 30% no caso dos membros que integram os órgãos sociais da empresa) e a redução da frota (para 88 aviões contra os 101 que a TAP possuía no final do terceiro trimestre de 2020), não tem prazo para aprovação definido, embora as expetativas dos responsáveis sejam que o plano possa ser colocado em marcha antes do final do primeiro trimestre de 2021. «Não temos uma previsão. Vai depender muito mais de Bruxelas do que de nós. Mas diria que será difícil que tal possa acontecer antes de fevereiro. É nossa intenção que o plano possa começar a ser aplicado a partir de fevereiro, março», disse Miguel Frasquilho, presidente do conselho de administração do grupo TAP, em entrevista ao nosso jornal.
O plano não vai, porém, ser suficiente para enfrentar os próximos tempos, uma vez que o mercado da aviação continuará, ao longo do próximo ano, a funcionar a meio-gás devido à covid-19. As estimativas mais otimistas da Associação Internacional de Transportes Aéreos (IATA_na sigla em inglês) apontam para uma retoma plena apenas no final de 2022 ou início de 2023. Com parte dos aviões em terra, o Estado já reservou no Orçamento do Estado para 2021 500 milhões em garantias para que a TAP possa financiar-se nos mercados. O Governo também anunciou que a companhia vai precisar de 970 milhões a 1164 milhões de euros no decorrer do próximo ano e de ainda mais apoios nos seguintes – entre 463 e 503 milhões em 2022, entre 379 e 438 milhões em 2023 e entre 392 e 420 milhões em 2024 (num total que pode chegar aos 3,7 mil milhões). O plano de recuperação prevê que o break-even operacional, ou seja, o momento em que a operação passa a representar ganhos, só será atingido em 2023. Segundo o plano, a companhia já terá um resultado operacional positivo em 2024 e, em 2025, já terá condições para começar a devolver dinheiro ao Estado.