Os candidatos a Presidente da República Marisa Matias e Tino de Rans estiveram esta terça-feira na RTP3 em debate. Ambos já foram candidatos em 2016, altura em que Vitorino Silva ficou em sexto lugar e a candidata apoiada pelo Bloco de Esquerda (BE) em terceiro.
O antigo presidente da junta de freguesia de Rans começou o debate a fazer uma retrospetiva de vida, confessando que escolheu a vida familiar e não a política. “A política não é profissão”, disse ainda.
Agora, Tino de Rans conta que já tem “duas agendas” e não consegue “atender a todos os que estavam distraídos”. O candidato espera ter “mais um voto” do que o resultado obtido há cinco anos e apelou ainda que “quem está em casa pode representar esse voto a mais”.
A primeira intervenção de Marisa Matias foi sobre as sondagens para estas presidenciais, nas quais surge em 5º lugar, o que a candidata desvalorizou: “Há cinco anos tinha um quarto do valor de Maria de Belém e fiquei à frente”, apontou.
Marisa Matias disse, no debate, que apresenta uma candidatura de “resposta à crise” e diz que a resposta aos “bloqueios do país não passa pela dupla Costa-Marcelo”.
“Eu apresento-me como a candidatura de esquerda”, afirmou negando qualquer conversa com Ana Gomes sobre a possibilidade de fundirem as duas candidaturas.
Sobre o Partido Socialista (PS) não ter apresentado um candidato, Marisa Matias disse que o partido o fez para demonstrar que “não há excesso de candidaturas à esquerda: são sete candidaturas e três de esquerda.”
A falar deste assunto, a candidata mostrou-se preocupada por estar a ultrapassar o tempo do opositor, mas Tino de Rans disse para continuar por estar “a falar bem”. “A minha candidatura é de esquerda, às direitas”, disse o líder do partido Reagir Incluir Reciclar (RIR).
A dada altura, ambos os candidatos fizeram um balanço do mandato de Marcelo Rebelo de Sousa como Presidente da República. Tino de Rans apontou que “a partir do momento em que Marcelo não precise do Partido Socialista, se for eleito, Costa tem os dias contados”.
Ora, para Marisa Matias, o chefe de Estado foi um “bloqueio em alguns entendimentos de esquerda”, como na Lei de Bases da Saúde, na legislação laboral, assim como em “questões como o Banif ou o Novo Banco, relativamente às quais temos posições antagónicas”. Desta forma, a candidata apoiada pelo BE considera que o mandato do Presidente “foi mais negativo que positivo”, nos últimos quatro anos, apontando o dedo a Marcelo de se aliar mais às entidades patronais do que aos trabalhadores. “Foi por isso que me candidatei”, admitiu.
Vitorino Silva aproveitou para dizer que tem “a certeza que Marcelo sabia de tudo o que se passava” no caso do roubo de armas a Tancos. Mas o candidato vai mais longe nas críticas: para Tino de Rans, Marcelo “apalhaçou o mandato”. O líder do RIR afirmou mesmo que “Marcelo comentador” faria o mesmo balanço sobre o mandato de “Marcelo Presidente”.
De seguida, o debate partiu para questões europeias, nomeadamente a chegada de fundos da União Europeia (UE). Para Vitorino Silva, “é importante saber para onde vão”.
Sobre os fundos europeus dos próximos anos, ou bazuca europeia, a eurodeputada considera que os “valores são insuficientes” e que esta bazuca foi “alterada várias vezes”. Sobre se Ursula Von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, está à altura do cargo, Marisa Matias respondeu com um cético “vamos ver”, destacando, no entanto, progresso em áreas como a mutualização da dívida.
A candidata sublinhou que “houve um esforço de cooperação notável na área da vacina” na UE, no entanto, quer saber de quem é “a propriedade da vacina”.
Vitorino Silva foi de seguida confrontado com as suas declarações mais recentes, em que dá especial ênfase à importância do povo, negando a ideia de ser populista. Admite, no entanto, sonhar com um Portugal onde “o posso possa subir à varanda”.
“Não nascemos aqui [em Portugal] por acaso, não gostaria de ter nascido noutro país que não Portugal. [Se fosse Presidente] tentava não aprofundar o que não tem sentido, muitas vezes há conversa de mais e ação de menos. Metade do tempo é de debate, debate-se muito, faz-se pouco”, notou.
Marisa Matias disse que “o populismo é uma ameaça porque desvirtua as respostas” e que precisa de “respostas concretas” do o rival acerca das divergências entre ambos. Por exemplo, uma das diferenças entre os dois candidatos é a visão acerca da geringonça: Marisa é a favor; Vitorino Silva é contra. O candidato explica que “gosta de relógios com poucas peças”, mas a bloquista lembra que a geringonça permitiu as “reformas antecipadas dos pedreiros de Penafiel”.