A epidemia volta a crescer e o mapa de risco a nível nacional já o reflete: o número de concelhos no vermelho, que diminuiu em dezembro, voltou a disparar. São agora 37 concelhos com nível de contágio extremamente elevado, com mais de 960 casos por 100 mil habitantes em 14 dias, e 112 no nível de risco muito elevado, acima de 480 casos por 100 mil habitantes. Há assim 149 concelhos acima do patamar de risco que tem sido usado pelo Governo para impor medidas mais apertadas como o recolher obrigatório da parte da tarde ao fim de semana, mais 49 do que na última avaliação disponibilizada esta segunda-feira pela DGS e que ainda não incluía os casos diagnosticados na última semana.
O novo ponto de situação foi feito esta terça-feira pela diretora-geral da Saúde (DGS) na conferência de imprensa sobre a evolução da covid-19, 24 horas depois de a DGS ter publicado a anterior avaliação da incidência da covid-19 por município, que dizia respeito ao período entre 14 e 27 de dezembro e que mostrava 25 concelhos no nível de risco máximo e 75 no nível de risco muito elevado. Os novos dados resultam de uma avaliação intercalar feita com os dados até dia 3 de janeiro, esclareceu ao i a Direção Geral da Saúde. Na conferência de imprensa, questionada sobre os concelhos que tinham saído do vermelho na última avaliação e futuras medidas, a diretora-geral explicou que, como tem vindo a acontecer nas últimas semanas, a DGS entregará ao Governo uma avaliação com dados mais atualizados possíveis para a tomada de decisão para os próximos dias, sendo que a lista com a situação por município será publicada como é habitual à segunda-feira. O cenário traçado ontem não é ainda aquele que o Governo terá em mãos no conselho de ministros: “Para a próxima reunião do Conselho de Ministros será realizada uma nova análise, que será divulgada na segunda-feira da próxima semana”, adiantou fonte oficial da DGS.
Graça Freitas indicou ontem para já que os 37 concelhos na categoria máxima de incidência abrangem 442 mil habitantes. Já os 112 concelhos entre 480 e 960 casos por 100 mil habitantes abrangem 5,2 milhões de portugueses. Concelhos como Lisboa e Porto, que tinham saído do nível de risco muito elevado e onde surgiu a expectativa de poderem haver um alívio nas medidas mais apertadas que vigoraram desde novembro nos concelhos com risco mais elevado – desde logo o recolher obrigatório ao fim de semana da parte da tarde com comércio e restaurantes de portas fechadas – voltaram a ter mais de 480 casos por 100 mil habitantes, pelo menos nesta avaliação intercalar. Existirão novas entradas e saídas, como tem acontecido ao longo dos últimos meses e o mais provável, dado o número de concelhos sinalizados, é que as medidas se mantenham apertadas para a maioria dos portugueses.
Quanto às medidas em concreto, serão fechadas pelo Governo. O estado de emergência é renovado esta quarta-feira por mais oito dias, por proposta do Presidente da República. Vários especialistas já tinham alertado que seria expectável um aumento de casos em janeiro, sendo a sua dimensão a incógnita. Podendo ter havido algum subdiagnóstico nas últimas semanas do ano, mais atípicas com feriados e laboratórios a meio gás, está a ser acompanhado de uma subida nos internamentos, o que indicia maior disseminação da infeção. Um crescimento da epidemia agora de forma mais homogénea em todo o país, salientou ontem Graça Freitas, sendo que o Alentejo passou a ser a região com maior incidência de novos casos – 666 casos por 100 mil habitantes. A densidade populacional é menor, o que torna mais fácil haver um aumento da incidência, mas nunca se viveram dias com tantas novas infeções no Alentejo. Na região de Lisboa, os internamentos estão também a aumentar e no Norte, onde estavam a baixar depois de a região ter sido o epicentro da segunda vaga, voltaram também a subir. Estão identificados em todo o país 417 surtos ativos, a maioria em lares e na região de Lisboa.
Questionada sobre se o SNS está preparado para o embate, Graça Freitas sublinhou que os hospitais estão a preparar-se e mostrou confiança na capacidade de resposta. “Creio que mesmo que os números aumentem, e tudo aparenta que poderá haver uma subida, o SNS terá capacidade certamente de se adaptar reorganizando a sua oferta de cuidados. É uma preocupação acrescida mas o SNS esta a preparar-se para isso”, afirmou. E reforçou o apelo a todos os que estiveram com outras pessoas de fora dos seus agregados familiares, particularmente na altura das festas: estar atento a sintomas, contactar o SNS24 caso surjam e avisar aqueles com quem estiveram. A preocupação: quebrar cadeias de transmissão o mais precocemente possível.
Impacto da nova variante em investigação
Ainda não há indícios de que a nova variante do SARS-CoV-2 já detetada em Portugal, com maior transmissibilidade, esteja associada a um aumento de casos em algum ponto do país. O Centro Europeu de Controlo e Prevenção das Doenças recomendou aos países que além de casos com ligação epidemiológica às zonas mais afetadas, como o Reino Unido, investiguem aumentos repentinos de infeções. Questionada pelo i sobre se já foram sinalizadas situações dessa natureza, em particular no Algarve, onde a Câmara Municipal de Tavira sinalizou um aumento “repentino” de casos, que levou a autoridade regional de saúde a suspender as aulas presenciais para os alunos do 2.º e 3.º ciclos e ensino secundário de todos os agrupamentos de escolas do concelho, a DGS esclareceu que “existem várias análises em curso, sendo necessário esperar pelo resultado das mesmas para perceber se existe alguma ligação com a nova variante.”
Inverno chega aos hospitais
Com o frio a apertar – historicamente associado a maior circulação de vírus respiratórios e descompensação de doença crónica – e a epidemia a registar um aumento de casos, o número de doentes continua a aumentar nos hospitais, desde logo nas urgências. A procura continua abaixo do que acontecia noutros invernos, mas com tendência crescente desde o final do ano. Esta segunda-feira os hospitais registaram a nível nacional 13 390 episódios nas urgências. Noutros invernos, chega a haver mais de 17 mil pessoas nas urgências nesta altura do ano mas nos últimos meses a quebra chegou a ser muito maior, desde logo no primeiro estado de emergência, e este ano há o reforço da recomendação para que se contacte previamente o SNS24 (e o 112 em caso de emergência) antes de recorrer a uma urgência. E os circuitos separados para infeções respiratórias tornam mais complexo o inverno que parece estar a chegar aos hospitais, perto de bater de novo o máximo de doentes internados com covid-19 e onde se espera o aumento também de outras patologias, como agravamento de doença cardíaca e respiratória, num ano em que evitar o cenário de macas nos corredores e sobrecarga de doentes foi uma das preocupações na elaboração dos planos de contingência para o inverno. Na região de Lisboa, foram 4927 idas às urgências num dia, dos dias com maior procura desde o início da epidemia. No ano passado eram por esta altura perto de 6 mil episódios diários nas urgências.