Conceição Queiroz utilizou as redes sociais para denunciar os ataques racistas de que é alvo diariamente.
Num longo texto, a jornalista da TVI desabafou sobre as constantes ameaças e insultos que lhe são dirigidos e partilhou mesmo algumas das mensagens que lhe são deixadas nas suas páginas pessoais na Internet.
“Dizem de tudo. Que me prostituí para chegar onde estou (mulher africana é burra, tem de dormir com alguém para subir na vida), que não entendem como me dão trabalho que é só para brancos, ordenam que me vá embora, ligam para o meu local de trabalho a pedir que seja afastada (atendi uma dessas chamadas), dizem ‘sua preta tiras o lugar aos portugueses, devias ser violada, tens essa boa disposição irritante, andas na coca…’”, começou por escrever.
“Todos os dias lido frontalmente com uma história imunda. Mas isso sou eu, com espírito aguerrido e os antepassados a protegerem. Enfrento-os. A minha preocupação são os outros (igualmente destratados) sem a estrutura que me acompanha. É por isso que não deixo de lutar. Em plena pandemia desejarem-nos a morte. É patológico, mas também maquiavélico. Peço aos agressores que continuem a atacar-me, mas abandonem quem (ainda) não se defende e fica com cicatrizes para o resto da vida”, apelou.
“Há quem esteja a comprimidos e em depressão por causa desta clara forma de terrorismo. Lembro que sou jornalista de investigação há 26 anos. Quando vasculho um pouquinho descubro uma espécie desprezível. Em relação a mim… não sabem o que fazer. Tanto desespero. Entramos na questão da ascensão social. Um negro não pode atingir um certo patamar. Podes estar abaixo, muito perto, mas se fazes o mesmo (tão bem ou melhor) és um alvo. Perdão. Há negros bem-sucedidos e tolerados, os sem agenda e de espírito servil”, frisou a jornalista.
“Entretanto as notícias são boas: nós, negros, apostamos ainda mais na formação. Já se riram ao descobrir que estou a tirar o doutoramento. Aos ditos digo que vou seguir para o Pós-doutoramento. Comunidade… amados e amadas… invistam na formação – não é fácil. Trabalhei com orgulho em restaurantes para pagar propinas”, destacou.
“Obrigada aos brancos que estão connosco, pois não generalizo. Não baixem a cabeça, não aceitem o desrespeito. Não sejam violentos, mas afirmativos. Honrem a memória dos que lutaram e morreram por nós. Como diz P.Chiziane (referência da literatura moçambicana) Deus não criou África por engano, mas por amor. Não se esqueçam do vosso valor. Não se esqueçam também que não desisto de nós”, rematou.
Na caixa de comentários multiplicaram-se as palavras de apoio à jornalista, com muitos utilizadores a destacarem a “admiração” que por ela sentem.